Os comentaristas do mainstream tupiniquim verde-e-amarelo são uníssonos
na duvidosa ideia sustentada num cenário contraditório: de um Regime dos
Aiatolás pintado como monstruoso tornando necessário que o programa
nuclear fosse interrompido, dentro da perspectiva de um conflito no qual "Israel é apresentado como juiz todo-poderoso" e o Irã, "um tigre de papel", que logo
seria submetido ao domínio israelense, graças ao apoio norte-americano e das
potências ocidentais. As avaliações de supostos especialistas veiculadas no noticiário hegemônico são de um "Irã derrotado frente às forças imbatíveis de Israel".
Qualquer imagem diversa dessa realidade falseada é invariavelmente omitida, com
raríssimas exceções, como a mostrada pelo DW, jornal da mídia alemã.
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Míssil balístico iraniano destrói a sede do Ministério da Defesa de Israel em Tel Aviv |
Salta aos olhos as falácias veiculadas pelas correntes hegemônicas de pensamento a serviço do imperialismo sionista no Brasil. A primeira falácia consiste em proibir uma nação de enriquecer o urânio. Isso seria equivalente a proibir uma nação de refinar o petróleo. O urânio e o petróleo são duas fontes de energia que podem e devem ser processadas para permitir o desenvolvimento de qualquer sociedade, para a produção de energia, aplicações científicas ou outras possibilidades pacíficas. Portanto, o argumento usado por Israel para agredir o Irã é absurdo, contrário ao direito internacional.
A segunda falácia do
mainstream está em esconder que Israel, ao contrário do Irã, não faz parte da
AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica, que é um organismo
multilateral da ONU encarregado de discutir, por consenso da comunidade
científica e dos representantes das nações, os protocolos dos programas de uso
da energia nuclear para fins pacíficos. Israel não é signatário de nenhum
protocolo. O Irã, por sua vez, aderiu a todos os protocolos internacionais,
inclusive bilaterais. O Irá assinou com os Estados Unidos um protocolo, que, no
governo Trump 1.0, foi abandado pelos americanos. Agora, no governo Trump 2.0,
a República Islâmica do Irã buscava um acordo diplomático-científico com os EUA
de uso pacífico da energia nuclear.
A terceira falácia do
mainstream reside em esconder uma verdade irrefutável: a máquina de guerra
sionista atacou o Irã durante um processo diplomático de negociação complexa
com os EUA. O Estado e a diplomacia iraniana preparavam-se para, na sexta
rodada de negociação, que se realizaria neste domingo, dia 15, negociar com os
EUA um protocolo de uso pacífico da energia nuclear. Israel, que rejeita a
AIEA. não se submete ao controle de nenhum protocolo, desenvolve livremente sua
bomba atômica sem nenhuma restrição política, militar e econômica, livre de
qualquer censura ou ameaça. Justamente este país decidiu, ao seu soberano
arbítrio, ingerir em assunto que não é da sua alçada. Seria crível acreditar
que tudo isso aconteceria ao alvedrio dos Estados Unidos? A República Islâmica do Irã foi envolvida numa armadilha diplomática!
A quarta falácia do mainstream
consiste em fazer acreditar que o país agressor, potencial produtor de bomba
atômica sem o controle da AIEA, possuiria legitimidade para condenar o país
agredido por aquilo que pratica e, ainda, usar mísseis para destruir instalações
nucleares do país desafeto, com isso, causar acidente nuclear de proporções
devastadoras e irreparáveis, de amplitude regional e internacional. Ora,
questões dessa natureza se revolvem diplomaticamente, nos fóruns multilaterais
e não por meios militares. A reação do Conselho de Segurança da ONU foi
fulminante, com poderosas vozes condenatórias dos crimes de Israel, mas o
mainstream não repercutiu...
A quinta falácia do mainstream
se consolida na amplificação de um discurso agressor genocida e sionista, na
normalização da guerra e da violação à soberania dos povos pelas grandes
potências ocidentais imperialistas do Reino Unido, França, Alemanha e EUA. A
exaltação da aliança imperialista, nada inusitada, repete-se em momento
histórico de crise global e, de forma grotesca, busca fundamento ideológico no
discurso de um chefe da máquina de guerra neofacista e sionista. A corrente de
pensamento majoritária da elite capitalista propaga com naturalidade a
operacionalização militar de agressão e destruição de regime político
construído soberanamente por um povo; propaga a insurgência de golpe de estado
contra o regime.
Esse é o pano de fundo que a atuação do mainstream pretende sustentar: a desestabilização do Irã, a mudança da sua política interna –
coisa que cabe ao povo persa –, a ruptura da aliança com a Rússia, Índia e
China, a fissura nos BRICS e a interrupção do processo de formação de um mundo
multipolar. A ordem vigente, baseada no imperialismo monopolista financeiro americano, chegou ao limite e que se esgotou no estado terrorista, sionista, racista e genocida de Israel. As imagens da destruição da Palestina ocupada e da destruição de Gaza com o morticínio monstruoso de 60 mil crianças, mulheres, velhos, médicos, jornalistas e cidadãos indefesos, falam por si.
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Gaza, em 2 de outubro de 2023 e em 23 de maio de 2025, após a destruição causada por Israel
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Por tudo isso, dentre outas
razões, as potências imperialistas revelam a velha estratégia baseada na guerra
como instrumento neocolonial de exploração dos povos e domínio sobre as nações
sul-americanas, africanas e asiáticas.
Que a Cúpula dos BRICS, a
realizar-se no Rio Janeiro, sob a presidência de Lula, no próximo mês, seja
capaz de unificar política e ideologicamente o Sul Global e fortalecer a voz
dos povos pelo desenvolvimento sustentável e pela paz no mundo!
Goiânia, 14 de junho de 2025