Blog do Osmar Pires

Espaço de discussão sobre questões do (ou da falta do) desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira e goiana, em particular. O foco é para abordagens embasadas no "triple bottom line" (economia, sociologia e ecologia), de maneira que se busque a multilateralidade dos aspectos envolvidos.

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Pós-Doc Dir. Humanos PPGIDH-UFG, D.Sc. C. Ambientais, M.Sc. Ecologia, B.Sc. Direito, Biologia e Agronomia. Escritor Academia de Letras de Goiânia. Autor de A gestão do espaço urbano e a função socioambiental da cidade. Londrina, PR: Sorian, 2023. 404p. O efeito do combate à corrupção sobre os direitos humanos... Goiânia: CegrafUFG, 2022. 576p. Família Pires... 3. ed. Goiânia: Kelps, 2022. 624p. Perícia Ambiental e Assistência Técnica. 2. ed. Goiânia: Kelps/PUC-GO, 2010. 440p. A verdadeira história do Vaca Brava... Goiânia: Kelps/UCG, 2008. 524p. Arborização Urbana e Qualidade de Vida. Goiânia: Kelps/UCG, 2007.312p. Introdução aos SGA's... Goiânia: Kelps/UCG, 2005. 244 p. Conversão de Multas Ambientais. Goiânia: Kelps, 2005, 150p. Uma cidade ecologicamente correta. Goiânia: AB, 1996. 224p. Organizador/coautor de Lawfare como ameaça aos direitos humanos. Goiânia: CegrafUFG, 2021. 552p. Lawfare, an elite weapon for democracy destruction. Goiânia: Egress@s, 430p. Lawfare em debate. Goiânia: Kelps, 2020. 480p. Perícia Ambiental Criminal. 3. ed. Campinas, SP: Millennium, 2014. 520p. Titular da pasta ambiental de Goiânia (93-96) e de Goiás (03-06); Perito Ambiental MP/GO (97-03).

Sunday, July 29, 2018

REVISITANDO AS FONTES MARXISTAS-LENINISTAS!

Osmar Pires Martins Junior
B.Sc. em Direito, M.Sc. em Ecologia e D.Sc. em C. Ambientais

Após viagem à Rússia, de 1º a 17/07/2018, fui compelido a reler a História da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Alguns fatos evidenciaram a presença viva de Stalin e da URSS na memória do povo russo, dos quais cito o seguinte, que registrei na Timeline do meu Faceboo:
Estávamos eu, minha esposa Josete Bringel e Alexsandra Kiseleva (guia russa da língua espanhola), na praça central de Vladimir, uma cidade medieval do circuito "Anel de Ouro", que foi a segunda capital do império Russo, por volta do Século X.
De repente, um senhor aparentando 40 anos de idade se aproximou e, na língua russa, traduzida naquele momento para espanhol e, agora, para a língua portuguesa, disse:
- "Sou neto de um deputado federal da Assembléia dos Sovietes. Tenho muito orgulho disso. Por isso, gostaria de oferecer para vocês, gratuitamente, como lembrança, este selo e estes dois botons daquele período, que muito nos orgulha, a mim e minha família".
Nós aceitamos de muito bom grado e regozijo! Com os agradecimentos dos que se guiam pelo lema de Karl Marx: "trabalhadores de todo o Mundo, uni-vos"!
CONFRONTAR O PARADIGMA
Estou estudando os trabalhos publicados pelos professores norte-americanos Grover Furr, Doutor em História Medieval da Universidade Estatal de Nova Jérsei e Arch Getty, historiador da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), dentre outros pesquisadores.
O paradigma considerado é a História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, aprovada pelo Comitê Central do PCUS, durante o período em que a URSS, sob o comando de Josef Stalin, enfrentou a brutal, desumana e destruidora invasão japonesa e alemã aos territórios soviéticos.
"História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS redigida pela Comissão do Comitê Central e aprovada pelo Comitê Central do PC (b) da URSS em 1938". Rio de Janeiro: Edições Horizonte, [1979]. 

INÉDITO ESTADO SOVIÉTICO DO TRABALHO

Desde 1933, quando o imperialismo nipônico fascista criou o primeiro foco de guerra no Extremo Oriente Soviético e, em 1941, a Alemanha Nazista invadiu a URSS, o Presidente da União Soviética, Generalíssimo Josef Stalin, comandou a derrota total dos agressores e invasores e consolidou o primeiro Estado da classe operário-camponesa.
A URSS foi a experiência vitoriosa na história da humanidade, no Século XX, de uma sociedade em que os meios de produção foram socializados; exerceu enorme influência no movimento revolucionário mundial; colaborou com os revolucionários asiáticos Mao Tsé-Tung, Kim Il Sung, Hô Chi Minh para derrotar as dinastias imperiais nacionais, aliadas de potências imperialistas como o Japão e o Reino Unido, levando à vitória as Revoluções Socialistas na China, Coréia e Vietnã.
O País dos Sovietes contribuiu para as revoluções democrático-populares e socialistas em diversas Nações da Europa Central e dos Bálcãs, na América Central, no Oriente Médio e na África.
Àquela época, os capitalistas de todo o mundo se uniram para derrotar a experiência socialista, patrocinando a contrarrevolução aberta ou camuflada, dentro e fora da URSS.

"ALIADOS" IANQUES E SUA GUERRA NADA FRIA
Os Estados Unidos, sob a Presidência de Franklin D. Roosevelt, entrou na Segunda Guerra somente após o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor. Roosevelt foi um defensor da aliança com Stalin contra o Eixo, mas o presidente americano faleceu ainda durante a guerra, sendo substituído por Harry S. Truman, um inimigo declarado da União Soviética. 
Truman ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. O ataque nuclear foi um genocídio que desintegrou meio milhão de cidadãos indefesos imediatamente após as explosões e causou a morte de outros milhões de cidadãos que continuam morrendo em consequência das doenças radioativas. 
A decisão do imperialismo americano de bombardear o Japão nada teve com o desfecho da Guerra Mundial, que estava decidida a favor dos Aliados, pois o Exército Vermelho já havia derrotado Hitler e libertado Berlim; após a libertação do Ocidente, o Exército Vermelho libertou o Oriente, derrotando o Exército Japonês que havia ocupado a China Central (Manchúria). Stalin não promoveu nenhuma anexação dos territórios libertados ao território soviético. Portanto, o covarde ataque nuclear, ordenado por Truman, teve o objetivo de chantagear o mundo democrático e a URSS, deflagrando a Guerra Fria antes mesmo de esfriar a II Grande Guerra.    

FALSE FRIENDS
Do lado de fora da URSS, os inimigos eram declarados ou camuflados. A União Soviética se viu cercada por todos os lados, externos e internos, por Estados Soberanos e por forças reacionárias. 
Os Estados Democrático-Burgueses da Europa, liderados pela Grã-Bretanha, apoiaram camufladamente as operações militares invasivas, embora se declarassem aliados da URSS, mas nada faziam de concreto para barrar e condenar os agressores!

INIMIGOS EXTERNOS
Já os Estados imperiais e monárquicos europeus e asiáticos, inimigos declarados da URSS, deslocaram suas frotas, por ar, água e terra, em direção à fronteira soviética para invadir a pátria socialista. As Forças Armadas do Eixo Nazifascista invadiram pelo Ocidente, em 1941, através da Alemanha do ditador nazista Hitler e da Itália do ditador fascista Mussolini; o Império Nipônico, do Rei Hiroito, atacou duas vezes pelo Oriente, em meados de 1930, mas foi duplamente derrotado e expulso da URSS.

OS INIMIGOS INTERNOS
Do lado de dentro da URSS, de forma aberta, os latifundiários expropriados, os monarquistas destituídos e capitalistas nacionalizados pelo Estado Soviético se uniram às forças externas para derrubar o governo e abrir as fronteiras para a invasão nazifascista.
Do lado de dentro da URSS, de forma camuflada, os adversários de Stalin dentro do PCUS tramaram sabotagens e atos de terrorismo contra os dirigentes da União Soviética. Todos os complôs dos invasores e sabotadores foram descobertos, derrotados e os seus autores julgados como traidores do Estado da classe operário-camponesa.
De acordo com Glover Furr, os julgamentos dos processos de Moscou que condenaram os responsáveis por praticar atos de sabotagem, traição e espionagem contra o Estado Soviético, a serviço do Japão e Alemanha:
[...] foram legais, não há prova de uso da tortura; os julgamentos obedeceram a legalidade estabelecida pelo Estado Soviético, garantindo o direito de defesa com a publicidade das sessões  e dos atos de julgamento [...]. (FURR, G. Trotsky’s “Amalgams” Trotsky's Lies, The Moscow Trials As Evidence, The Dewey Commission (Trotsky's Conspiracies of the 1930's, Volume One). Kettering OH: Erythros Press & Media LLC, 2015)
TROTSKY: UM REVOLUCIONÁRIO CONTROVERSO
A exclusão do menchevique revolucionário Trotsky do partido de Lenin, por decisão XV Congresso do PC da URSS, em 03/12/1927, deflagrou uma luta entre correntes trotskistas e stalinistas que perdura até os dias atuais. Recorro aos escritos de Coggiol, um notório trotskista, para firmar algumas informações incontestáveis:
[...] O partido em que ingressou só em agosto de 1917 (o partido bolchevique, depois rebatizado [sic] como Partido Comunista) , na véspera da Revolução de Outubro [...]. O  regime soviético conseguira alguma estabilidade externa, graças às vitórias militares em quase todas as frentes da guerra civil, mas sua situação interna se tornava cada vez mais complicada, com greves em Petrogrado e, sobretudo, com o levantamento da fortaleza marítima de Kronstadt. Coube a Trotsky chefiar a repressão à rebelião de Kronstadt, como responsável militar do Estado. A repressão foi votada pelo X Congresso do PC(b), incluída a “Oposição Operária”, chefiada por Chliapnikov e Alexandra Kollontai, oposição às vezes apresentada (deturpadamente) como expressão (conjuntamente com o levantamento de Kronstadt) da luta pela “democracia operária” contra a “ditadura bolchevique”. Anos depois, Trotsky situou e justificou a repressão de Kronstadt, no quadro dos mesmos problemas que puseram a revolução a perigo naquele momento. [...]
Pouco antes da insurreição de Kronstadt, Karl Radek [aliado de Trotsky) tinha resumido brutalmente a situação do governo bolchevique: “O partido é a vanguarda consciente da classe operária. Chegou o momento em que o grosso das massas operárias está cansado, receoso de seguir uma vanguarda que continua arrastando-as pelo caminho das lutas e dos sacrifícios. Devemos ceder a trabalhadores no limite de suas forças físicas e da sua paciência, menos esclarecidos do que nós sobre seus próprios interesses gerais?" [...]
Em março de 1929, Trotsky deu a conhecer um artigo - No caminho de uma oposição internacional - que estendia o combate contra o stalinismo ao terreno internacional. [...] Os seguintes quatro anos (1929-1933) seriam os da existência da Oposição de Esquerda internacional, o nascimento do “trotskismo” em escala mundial. [...] Trotsky se esforçou em reagrupar um amplo arco de militantes e organizações comunistas opostas ao stalinismo [...]. A luta da Oposição contra a burocratização, e a luta por um novo reagrupamento político mundial, foram dois aspectos de um único combate. [...] (COGGIOL, Osvaldo. Trotsky, Stalin e a burocracia da URSS. Prefácio de Stalin de Leon Trotsky. São Paulo: [s.ed.], ago. 2011)
Da insuspeita transcrição do prefácio do livro "Stalin de Leon Trotsky", destaco o moralismo de Trotsky que, enquanto dirigente do Estado Soviético, membro do Partico Comunista (bolchevique), praticou o que, de forma veemente e ácida, criticou e acusou em Stalin.

"FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO O QUE FAÇO"
Trotsky chefiou a repressão à rebelião de Kronstadt, iniciada em 1°/03/1921 contra a jovem República Federativiva Soviética da Rússia, então presidida por Lenin.
Depois que Trotsky foi expulso do 'Partido Bolchevique' e do País dos Sovietes, ele mesmo se tornou um revoltoso como os que reprimiu em Kronstadt, ao comandar a oposição contra a URSS e por um "novo reagrupamento político mundial". O "novo' agrupamento, comandado por Trotsky, implicaria a destruição do poder operário-camponês e sua substituição por outro tipo de poder.
Da transcrição acima se destaca que Trotsky criticou o burocratismo do Estado Soviético como um fenônemo do stalismo, mas um aliado de Trotsky, Radek, reconheceu que, em 1921, os tabalhadores estavam exaustos, no limite de suas forças física e da sua paciência.
Dessa forma, Radek indica uma causa do burocratismo que não se deve a Stalin, mas que decorre da árdua luta e dos enormes sacrifícios impostos aos revolucionários bolcheviques contra os exércitos imperialistas, guardas brancos armados pelos monarquistas e kulaks ou latifundiários russos.
Ora, o cenário do pós-guerra mundial, encerrado em 1918, da intervenção militar estrangeira e da guerra civil russa, encerrada em 1921, se repetiu com gravidade e sacrifícios muito piores, mais graves e prolongados, apenas uma década e meia depois, com a invasação japonesa no Oriente Soviético, em 1933, e a invasão alemã, em 1941, contra a URSS, dirigida por Stalin, a demonstrar que, conforme subtítulo seguinte, o quadro dramático da história da União Soviética não comporta avaliações simplistas, dogmáticas e maniqueistas. 

MAIOR GENOCÍDIO DA HISTÓRIA
A intervenção das potências imperialistas contra o Poder Soviético da URSS, dirigido pela aliança operário-camponesa, causaram o maior genocídio da história humana: 
[...] 40 milhões de cidadãos soviéticos, além dos soldados e oficiais do Exército Vermelho foram mortos ou ficaram feridos e inválidos; 2 mil cidades e 70 mil aldeias e empresas que empregavam quatro milhões de trabalhadores foram bombardeadas e brutalmente destruídas [...] (DOBB, Maurice. Soviet Economic Development. 6. ed. Londres: Routledge and Kegan Paul, 1966. p. 301).
Todas as ações monstruosas dos inimigos intervencionistas foram derrotadas por conta própria do Estado e do povo soviético, sob a liderança de Stalin. Aos derrotados capitalistas e anticomunistas restou a mais ferrenha, articulada e poderosa propaganda antiestalinista, centrada nos ataques ao dirigente líder do Estado Soviético, que foi qualificado de ditador sanguinário, genocida, opressor das nacionalidades, inimigo da liberdade e paranoico. Formou-se um amplo arco de difamadores, injuriosos e caluniadores, desde os mais ferrenhos capitalistas e nazifascistas, até os revisionistas classícos e modernos, mesmo os que se passam  por "herdeiros de Lenin" para justificar os ataques a Stalin, visando de fato destruir o legado do Estado Socialista. 

VERDADE HISTÓRICA
Apesar dos graves erros históricos dos dirigentes da União Soviética,que levaram à desintegração dos Estados Socialistas Soviéticos, a verdade não está com os capitalistas que têm nos antiestalinistas a sua tropa de choque mais enfurecida. A verdade histórica vem sendo inexoravelmente revelada, a partir de estudos da história soviética por pesquisadores honestos, isentos, embasados em documentos oficiais e fontes fidedignas de primeira mão.
Stalin e os dirigentes centrais do Poder Soviético tomaram decisões baseadas em informações de Estado que revelaram ampla conspiração contra a URSS, nas décadas de 1930-40. O objetivo do Eixo, formado por Países signatários do Pacto Anti-Komintern (Internacional Comunista), era destruir a URSS por meio de diversas ações, desde as espionagens, conspirações, infiltrações, sabotagens e assassinatos dos dirigentes do Estado Soviético, até operações militares invasivas dos seus extensos territórios pelas Forças Armadas da Alemanha, Itália e Japão.

PESQUISADORES PROBOS
Um dos aspectos reveladores dos "documentos secretos" do Kremlin, analisados por Furr, Getty e outros pesquisadores probos, é quanto à defesa da URSS contra os inimigos externos e seus aliados internos, a soldo das Potências do Eixo Nazifascitas. Os pesquisadores concluíram que as medidas defensivas não foram conduzidas por índole genocida, mas por decisões políticas de Estado, discutidas no Politburo e aprovadas no VII e no VIII Congresso dos Sovietes.
O pesquisador Arch Getty estudou os eventos no Partido Bolchevique que levaram aos Grandes Expurgos de 1937-38 e concluiu que:
[...] A burocracia do partido era caótica e não totalitária, e que as autoridades locais tinham relativa autonomia dentro de um sistema político consideravelmente fragmentado. A liderança de Moscou, da qual Stalin foi o ator de maior autoridade, tanto reagiu para frear quanto para instigar os processos. Por causa de disputas, confusão e ineficiência, muitas vezes o Politiburo promoveu políticas contraditórias. Assim, os Grandes Expurgos não ocorreram como produto final de um cuidadoso plano sanguinário de Stalin, mas como resultado das tentativas incrementais por Moscou para centralizar o poder político na defesa da União Soviética [...]. (GETTY, A.J. Origins of the Great Purges: The Soviet Communist Party Reconsidered, 1933-1938. Cambridge University Press,  1987. p. 276)
Por outro lado, dos "documentos secretos" do Kremlin emergiram fatos, até então desconhecidos, apontando que Stalin e seus fieis aliados foram protagonistas de medidas de democratização do Poder Soviético, por meio do Projeto de Reforma Democrática discutido, aprovado e promulgado na Nova Constituição Soviética de 1937.

DEMOCRATIZAÇÃO DA UNIÃO SOVIÉTICA
Os pesquisadores citados revelam que Stalin, para surpresa de muitos, propôs, defendeu e aprovou o sufrágio universal, igualitário, direto e secreto para todas os cargos nos Estados das 15 Repúblicas Soviéticas.
Stalin e destacados dirigentes do Politiburo como Zhdanov, Molotov, Malenkov e Kaganóvich lutaram pela aprovação e inclusão na Constituição Soviética das garantias fundamentais do direito à liberdade religiosa, política e ideológica, assim como a norma constiticional da autodeterminação dos povos e da autonomia das nações para entrar e para sair da URSS.
A democratização da URSS foi aprovada no VIII Congresso dos Sovietes, que promulgou a Constituição Soviética, em 1937, sob comando de Josef Stalin. O sufrágio universal, igualitário, direto e secreto abriu a possibilidade de qualquer cidadão soviético se candidatar a qualquer posto no Poder Soviético (Executivo, Legislativo e Judiciário).
[...] A eleição seria aberta, com campanhas eleitorais vivas e vibrantes, nas quais seriam apresentadas as propostas dos candidatos indicados não só pelo PCUS, mas também pelas organizações sociais como a igreja e os sindicatos, pelos diversos segmentos da sociedade como os capitalistas desnacionalizados e os antigos latifundiários, os kulaks, desapropriados pelo Poder Soviético, permitindo a implantação dos Sovkozes e Kolkozes (cooperativas da pequena e da grande produção agropecuária) [...] (FURR, G. Stalin and the Struggle for Democratic Reform, Part One and Part Two. Cutural Logic 8, 2005).
DEMOCRACIA: "QUE HÁ A TEMER"?
Os "documentos secretos" pesquisados por Glover Furr e publicados em livros e artigos, revelam que Stalin e seus aliados fieis aprovaram as propostas do Projeto de Democratização do Poder Soviético nas discussões da Nova Constituição da URSS, assim justificada por Stalin na entrevista concedida  ao jornalista norte americano Howard e publicada à época, verbis:
[...] Alguns dizem que isto é perigoso, já que os elementos hostis ao poder soviético poderiam chegar aos níveis mais altos, alguns dos antigos guardas brancos, kulaks, sacerdotes, etc. Mas, que há a temer? Se tens medo dos lobos, não caminhes no bosque. Por um lado, nem todos os antigos kulaks, guardas brancos e padres são hostis ao poder soviético. Por outro, se o povo se deixa levar ali ou aqui por forças hostis, isto significará que o nosso trabalho de agitação está pobremente organizado, e que merecemos esta desgraça [...]. (FURR, idem).
A matéria supra, encontrada nos "arquivos secretos" do Kremlin, é reveladora do entusiasmo de Stalin sobre o Projeto de Democratização do Poder Soviético. Veja:
[...] O sufrágio universal, igualitário, direto e secreto será uma arma nas mãos do povo contra os órgãos governamentais que funcionem mal. Na minha opinião, a nova constituição soviética será a constituição mais democrática do mundo [...]. (Entrevista de Stalin ao jornalista americano Howard, publicada em mar. 1936)  
AS ELEIÇÕES PARA O SOVIET SUPREMO
O órgão superior do Poder do Estado na União Soviética é o Soviet Supremo, formado por duas câmaras, iguais em direito, o Soviet da União e o Soviet das Nacionalidades, eleito pelo prazo de quatro anos, na base do sufrágio universal, igualitário, direto e secreto. 
O Projeto de Democratização foi aprovado nas instâncias do Partido e do Estado, anunciado por Stalin na entrevista acima transcrita e sancionado na Nova Constituição da URSS. 
A democratização da União Soviética deu passos largos com a eleição de 17/12/1937, conforme proclamação do resultado eleitoral, divulgado no relatório "As eleições para o Soviet Supremo da URSS", pp. 138-141, da citada obra "História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS", verbis:
[...] A 11 de dezembro de 1937, véspera do dia das eleições, o camarada Stalin falou em seu distrito eleitoral, tocando em seu discurso no problema das condições que os homens eleitos pelo povo para deputados do Soviet Supremo da URSS deviam reunir.
Os eleitores, o povo - disse o camarada Stalin - devem exigir de seus deputados que estejam à altura de sua missão; [...] Que sejam tão intrépidos no combate, tão implacáveis com os inimigos do povo, como o era o próprio Lenin. Que sejam refratários a todo pânico, a toda sombra de pânico, quando as coisas começam a complicar-se e no horizonte se divisa algum perigo.[...] Que quando se tratar de resolver problemas complexos, que necessitam de orientação em todos os seus aspectos, de ter em conta todas as vantagens e se mostrem tão prudentes, tão ponderados e refletidos, como o próprio 
Lenin. Que sejam sempre tão amigos da verdade e tão honrados como era Lenin. Que amem seu povo como Lenin o amava.
A 12 de dezembro se celebraram as eleições para o Soviet Supremo da URSS As eleições se desenvolveram em meio de imenso entusiasmo. Não eram simples eleições, mas uma grande festa, o triunfo do povo soviético, uma afirmação da amizade fraternal dos povos da URSS.
Dos 94 milhões de eleitores que compõem o censo, tomaram parte nas eleições mais de 91 milhões, ou sejam 95,8%. Destes, votaram pelo bloco dos comunistas e sem partido 89,9 milhões de eleitores, isto é, 98,6%. Somente 632 mil pessoas, ou seja menos de 1%, votaram contra os candidatos do bloco, dos comunistas e sem partido. Foram eleitos todos os candidatos do bloco, sem exceção. Deste modo, quase 90 milhões de homens ratificaram com seu voto unânime o triunfo do socialismo na U.R.S.S.
Foi uma grande vitória do bloco dos comunistas e sem partido. Foi um triunfo do Partido bolchevique. A unidade política e moral do Povo Soviético, da qual falara o camarada Molotov em seu histórico discurso do 20° aniversário da Revolução de Outubro, obteve nestas eleições uma brilhante afirmação. [...] (História do Partido Comunista (b) da URSS redigida e aprovada pelo Comitê Central redigida pelo PCUS. pp. 138-141)
NOS BASTIDORES DA BUROCRACIA, O BOICOTE À DEMOCRATIZAÇÃO
O resultado da eleição geral para o Soviet Supremo da URSS, realizado sob a égide da Nova Constituição que estabeleceu o sufrágio universal, igualitário, direto e secreto, no entanto, não produziu o efeito democratizante esperado por StalinZhdanov, Molotov, Malenkov e Kaganóvich.
Os motivos e as causas que levaram à frustação do Projeto de Democratização da União Soviética estão contidos no Informe de Zhdanov, aprovado pelo Comitê Central do PCUS que discutiu os preparativos para a eleição geral do Soviet Supremo, realizada em 12/12/1937, verbis
[...] Do informe que o camarada Zhdanov fez, em fins de fevereiro de 1937, no Pleno do Comitê Central sobre o problema da preparação das organizações do Partido para as eleições do Soviet Supremo da U.R.S.S., resultou que havia uma série completa de organizações que, em sua atuação prática, não correspondiam abertamente aos estatutos do Partido e às bases do centralismo democrático, que substituíam o princípio eletivo pelo sistema da cooptação, a votação por candidaturas separadas pela votação por listas, o sufrágio secreto pelo voto aberto, etc. Era evidente que organizações que atuavam assim não podiam cumprir com sua missão nas eleições do Soviet Supremo. Portanto, era necessário, antes de tudo, acabar com semelhantes práticas antidemocráticas nas organizações do Partido e reconstruir a atuação deste na base da Plena democracia. [...]  (História do Partido Comunista (b) da URSS redigida e aprovada pelo Comitê Central redigida pelo PCUS. p. 139)
POLITBURO OLVIDOU ZHDANOV
O Informe de Zhdanov foi aprovado pelo Comitê Central do PCUS, que reafirmou o Projeto de Democratização do Poder Soviético, nos seguintes termos:
[...] A respeito disto, o Pleno do Comitê Central, depois de ouvir o informe do camarada Zhdanov, resolveu:
1. Reconstruir o trabalho do Partido na base da aplicação plena e incondicional dos princípios da democracia dentro do Partido segundo os seus estatutos.
2. Acabar com a prática da cooptação para designar os membros dos Comitês do Partido e restabelecer o caráter eletivo dos órgãos dirigentes das organizações do Partido, de acordo com os seus estatutos.
3. Proibir o voto por listas nas eleições para os órgãos do Partido e efetuar as eleições por candidatura separada, garantindo a todos os membros do Partido o direito ilimitado de recusar os candidatos e criticá-los.
4. Implantar, nas eleições dos órgãos do Partido, o sistema de votação secreta dos candidatos.
5. Celebrar eleições para designar os órgãos do Partido em todas as organizações deste, desde os Comitês de Partido das organizações de base até os Comitês territoriais e provinciais e os Comitês Centrais dos Partidos Comunistas nacionais, assinalando como prazo máximo para terminar estas eleições a data de 20 de maio.
 6. Obrigar todas as organizações do Partido a acatar rigorosamente os prazos assinalados para as eleições de seus órgãos, de acordo com os estatutos: nas organizações de base, uma vez por ano; nas organizações de distrito e de cidade, uma vez por ano; nas organizações territoriais, provinciais e de Repúblicas, uma vez cada ano e meio.
7. Assegurar, nas organizações de base do Partido, a estrita observância do regime de eleições dos Comitês do Partido nas assembléias gerais de fábricas, sem permitir a substituição destas por conferências. [...]  (História do Partido Comunista (b) da URSS redigida e aprovada pelo Comitê Central redigida pelo PCUS. p. 140)
Entrementes, a Resolução do Comitê Central olvidou o aspecto central do Informe de Zhdanov, qual seja, o boicote! A Alta Cúpula do PCUS fez ouvidos moucos à informação de Zhdanov de que nas organizações regionais e locais, muitos Seacretários-Gerais do Partido boicotavam o Projeto de Democratização do Estado Soviético, de maneira que as eleições se realizaram sem o efetivo cumprimento das providências democratizantes emanadas pelo Comitê Central.

MODUS OPERANDI
Os dirigentes marxistas-leninistas do Politburo sucumbiram à pressão da máquina burocrática, sob o argumento desfocado da sua verdadeira finalidade, de combate aos "inimigos internos" da União Soviética. Os verdadeiros marxistas-leninistas tiveram suas vistas empanadas pela grave situação, mas os oportunistas fizeram "vistas grossas" ou foram cúmplices do boicote realizado pelos Secretários-Gerais ao Projeto de Democratização do Poder Soviético.
Depreende-se, do exposto, que o "modus operandi" do estamento burocratizante do PCUS, desde o Poltiburo aos órgãos regionais e locais do Partido, diante de uma situação extremamente complexa, pode ser caracterizado:
i) pela exclusão dos candidatos indesejados - os jovens e verdadeiramente inovadores representantes do povo soviético, que foram incluídos injustamente nas cotas de expurgo, pelos Secretários-Gerais e aprovadas pela cúpula do Partido, pretensamente como "inimigos do povo e do Estado Soviético";
ii) pela inclusão e manutenção dos velhos burocratas nas listas dos candidatos ao Soviet Supremo, por meio das práticas inconstitucionais da cooptação e da votação aberta, sob o controle da burocracia estatal.
Assim, a eleição para o Soviet Supremo não cumpriu inteiramente as determinações emanadas pelo Politburo, em face da manutenção do problema apontado no Relatório de Zhhanov.
Com o recrudescimento dos esforços preparativos à previsível invasão nazista, a democratização do Poder Soviético foi solenemente abortada, colocando-se em segundo plano dispositivo do sufrágio universal previsto na Constituição Soviética e no Estatuto do Partido.
Dessa forma, o Poder Soviético permaneceu sob o controle dos burocratas que, liderados por  Kruschev, desfecharam o golpe revisionista no XX Congresso do PCUS, em 1956.

O "GRANDE TERROR" DE STALIN: VERDADE E MENTIRA
Os mais ferrenhos anticomunistas têm no antiestalismo os argumentos mais contundentes, centrados nas acusações de genocídio na URSS, durante o expurgo denominado "Grande Terror de Stalin".
A análise criteriosa e imparcial dos "documentos secretos" do Kremlin, levada a cabo por pesquisadores honestos, como Glover Furr e Arch Getty, lançam luzes sobre este período tenebrenoso da história humana.
Os pesquisadores se debruçam diante do desafio lançado: "Os bolcheviques, sob liderança de Stalin, promoveram o grande terror"? Até o momento, pode-se responder parcialmente que sim, o Partido Comunista (b.) da URSS realizou expurgos, deportações, prisões e execuções. Houve exageros, ilegalidades e injustiças contra pessoas inocentes, que nada tinham a ver com sabatogens, espionagens a serviço dos inimigos externos. 
Entrementes, a luta contra os "inimigos internos" foi aprovada pelo Politburo; a depuração foi praticada de forma descentralizada; as ilegalidades foram motivadas por intrigas e disputas pelo poder e perpetradas pelas autoridades soviéticas dentro de um contexto histórico assim descrito por Glover Furr, com base em Arch Getty, verbis:
[...] A descoberta, em Abril, Maio e primeiros dias de Junho de 1937, do que aparentemente era um amplo complô militar e policial fez crescer o pânico no governo de Stalin. Genrikh Yagoda, diretor de segurança e Ministro de Interior, foi preso no final de Março de 1937, começando as confissões em Abril. Em Maio e princípios de 1937, militares de alta patente confessaram a sua conspiração com o comando alemão para derrotar o Exército Vermelho no caso duma invasão por parte da Alemanha e dos seus aliados. Também confessaram as suas relações de natureza conspirativa com políticos, incluindo muitos que ocupavam posições destacadas [...]  (FURR, G. A luta de Stalin pela Reforma Democrática. Partes 1 e 2).
A HISTÓRIA ABSOLVE STALIN DO GRANDE TERROR
Os expurgos foram aprovados pelo Politburo (Comitê Central), por insistência dos Secretários-Gerais do PCUS e não a mando de Josef Stalin, como acusam os antiestalinistas de todos os matizes ideológicos. Inobstante, a história não absolve Stalin da sua responsabilidade, mas o isenta da acusação de que ordenou pessoalmente os expurgos, deportações e execuções de pessoas inocentes. Inobstante o controvertido papel desempenhado por Lavrentii Béria, o pesquisador americano Glover Furr assevera que:
[...] Sob o comando de Béria, muitas das chefias do NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos) e Primeiros Secretários responsáveis por milhares de execuções e deportações foram julgados, e muitos deles executados por levar à morte gente inocente e fazer uso da tortura contra os detidos. As transcrições dos julgamentos de alguns dos funcionários policiais que utilizaram a tortura foram publicadas. Numerosos presos e acusados, deportados ou enviados aos campos de trabalho foram libertados.
O próprio Béria manifestou que a sua missão era "acabar com a Yezhovshchina". Stalin disse ao engenheiro aeronáutico Yakovlev que Yezohv (ex-chefe do NKVD) foi executado por assassinar milhares de inocentes. Foi feito um incalculável dano à sociedade soviética, ao governo soviético e ao Partido Bolchevique. Há muito tempo que sabemos isto, evidentemente. O que não sabíamos até agora é que a implantação das troikas e as cotas de execuções e deportações se deviam à insistência dos Primeiros Secretários, e não a Stalin.
A estreita relação entre isto e a ameaça de eleições abertas, e o fato do Comité Central conseguir forçar a direção de Stalin e os seus colaboradores a cancelar essas eleições [pelo sufrágio universal, aberto, direto e secreto], indica que a forma de evitar essa "ameaça eleitoral" foram as detenções massivas e as execuções da "Yezhovshchina" (operações ilegais realizadas por Yezhov no comando do NKVD).
Ninguém pode absolver Stalin e os que o apoiaram, das amplas responsabilidades que tiveram nas execuções, que foram de bastantes centenas de milhares. Se as vítimas fossem encarceradas ao invés de executadas a maioria teria sobrevivido. Muitos veriam os seus casos revistos, e seriam libertados. Para os nossos objectivos neste trabalho, a pergunta chave é: porque cedeu Stalin às solicitações dos Secretários Regionais, solicitações que lhes concediam o destino de milhares de pessoas? Pode ser que não existam desculpas, podem existir razões.
Nenhum outro governo está preparado para traições simultâneas por parte de altos comandos militares, figuras de primeira fila do governo nacional e de governos regionais, e da direção da polícia secreta e de fronteiras.
Um grave conjunto de conspirações, que incluía tanto atuais líderes do Partido como anteriores, com ligações em todo o país, acabava de ser descoberto. O mais ameaçador era a participação de destacados militares dos níveis mais altos, com a revelação dos planos secretos militares aos inimigos fascistas.
A conspiração militar tinha contatos em toda a URSS, e nela estavam também os principais líderes do NKVD, incluindo Yagoda, que dirigiu este organismo entre os anos 1934 e 1936. Pode-se dizer que não se conhecia a amplitude da conspiração e quanta gente estava implicada. O caminho prudente era pensar o pior. [...]
Em Novembro de 1938, Lavrentii Béria assumiu o posto de Yezhov como chefe do NKVD. As "troikas" [trincas julgadoras] foram abolidas. As execuções extra-judiciais acabaram e os responsáveis pelos terríveis excessos foram a julgamento [...]. Com Béria teve lugar um contínuo processo de reabilitações, libertou 100.000 prisioneiros de campos de trabalho forçado e prisões. Isto foi seguido pelos julgamentos, execuções e encarceramentos dos dirigentes do NKVD responsáveis pelas deportações, torturas e execuções extra-judiciais. [...] (FURR, G. A luta de Stalin pela Reforma Democrática. Partes 1 e 2)
KRUSCHEV E A CONTRARREVOLUÇÃO REVISIONISTA
O resultado democratizante das eleições de 12/12/1937 para o Soviete Supremo da URSS assustou a gigantesca burocracia do Partido e do Estado Soviético. Os burocratas se tornaram aliados dos revisionistas do marxismo-leninismo, na luta contra a democratização do Poder Soviético. A força da burocracia se expressou na liderança do Secretário-Geral do PCUS, Nikita Kruschev que, após a morte de Stalin, em março de 1953, assumiu o poder, coroando longa articulação da burocracia interna, habilmente tecida a pretexto do combate ao culto à personalidade de Stalin. A conclusão do pesquisador Grover Furr a respeito da trama revisionista é demolidora:
[...] O retrocesso revisionista tinha por alvo evitar a efetivação da proposta de Stalin de democratização total do Poder Soviético. Após a sua morte, Kruschev, com apoio interno dos dirigentes burocratas do PCUS, lançou na pessoa de Stalin todos os erros e eventuais crimes praticados pelas autoridades soviéticas, como os expurgos e execuções dos "inimigos internos", que foram aprovados pelo Politburo e executados pelo governo a pedido dos Secretários-Gerais, a pretexto da luta contra os sabotadores e aliados internos do Japão e da Alemanha. O próprio Kruschev, quando Secretário-Geral do Partido na Ucrânia e depois em Moscou solicitou a execução de 25 mil "inimigos internos". Ao mirar Stalin, Kruschev e seus aliados revisionistas agiram para ocultar os seus próprios crimes com o arquivamento do sufrágio universal, igualitário, direto e secreto, estrategicamente alcançado com a manutenção do Poder Soviético nas mãos da burocracia por ele comandada [...]. (FURR, idem)
DA CONSTATAÇÃO IN LOCO SOBRE A GRANDE MENTIRA
Durante a nossa viagem à Rússia, eu e a minha esposa tivemos a oportunidade de constatar, in loco, a como é falsa e desmoralizada a acusação de Khrushchev contra Stalin do "Culto à personalidade", que perdura até hoje como estratégia do desmonte da União Soviética. Esta acusação foi consagrada como política oficial do estalinismo, em 1956, três anos após a morte de Stalin, no famoso "Discurso secreto" do XX Congresso do PCUS.
Como é de praxe, na World Cup 2018,  FIFA distribui inúmeras informações aos turistas, como o Guia do Metrô de Moscou. Neste período, casualmente, ao ler as informações sobre as estações de metrô, encontramos às folhas 18 e 19 do Guia, a história da estação Komsomolskaya, construída pela União da Juventude Comunista (Komsomol) e aberta ao público em 30/01/1952.
Estações Komsomolskaya (esq.) e Novoslobodskaya (dir.)

Curiosamente, a informação do Guia do Metrô Russo sobre a mais bela e extensa das estações da enorme rede metroviária moscovita desmente a mais famosa acusação contra o ex-Presidente da URSS, Josef Stalin, do "culto à personalidade". 
Veja o texto abaixo, que traduzimos do inglês para o português:
[...] A maior estação da Linha Circular do Metrô de Moscou foi projetada pelo famoso arquiteto A. Shusev, associado com o pintor P. Korin.
Três dos oito painéis, onde Stalin ocupava o lugar central, eram dedicados à Grande Guerra Patriótica.
Os outros cinco mosaicos narravam as conquistas dos comandantes russos do passado, os quais foram mencionados por Stalin no famoso discurso de Novembro de 1941 (Nevsky, Donskoy, Pozharsky, Suvorov e Kutuzov).
Numa das noites de junho de 1952, Stalin visitou as obras da estação Konsomolskaya.
Na ocasião, o Presidente Soviético afirmou que era injusto que o seu retrato ocupasse o lugar mais proeminente enquanto os famosos comandantes russos eram "empurrados" para o extremo oposto do salão.
A catástrofe era iminente: afinal, remover enormes placas com mosaicos já embutidos no vão e mudar seus lugares era quase impossível.
Felizmente, os gerentes dos trabalhos conseguiram convencer Stalin de que essa forma de organizar os painel estava correta do ponto de vista cronológico.
Logo após a morte de Stalin, os painéis foram reconstruídos "por razões ideológicas e políticas".
As imagens de Beria, Molotov e "leais stalinistas", que caíram em desgraça sob Khruschev, foram gradualmente removidas dos mosaicos dedicados à Grande Guerra Patriótica.
Em 1961, Stalin, "o culpado do culto à personalidade" foi removido dos painéis.
Ao mesmo tempo, as histórias do mosaico tiveram que ser mudadas. Como resultado, em vez de Premiar a Bandeira de Guardas, apareceu "Lenin participando do Desfile das Tropas e partindo para o front" (ele faleceu 17 anos antes).
O Desfile da Vitória se tornou o Triunfo da Vitória.
O artista P. Korin foi instruído a preparar novos esboços para o painel; ele refez a composição, retirando dela tantos fragmentos do painel anterior quanto possível.
O Generalíssimo Stalin e todo o Politburo desapareceram da imagem (agora foi representada a tribuna vazia do Mausoléu) e coloca em primeiro plano uma figura alegórica da pátria.
Em 1963, a correção dos "erros históricos" dos mosaicos foi concluída (foi necessário mudar os azulejos durante a noite, enquanto o metrô estava fechado).
O Projeto da Estação recebeu o Grande Prêmio da Exposição Internacional de Bruxelas. [...] (KOLENISKOVA, N. (Ed.). Magazine "Moscow Transport" Reference Guide n° 5 de 25.05.2018. Moscow: LLC, 2018. pp. 18-19).
DO "CULTO À PERSONALIDADE" À PERESTROIKA E À DISSOLUÇÃO
O trabalho liquidacionista, iniciado por Kruschev, foi concluído por Mikail Gorbachov via perestroica e a glasnost, culminando com Boris Yeltisin que dissolveu a URSS. A política oficial dos Governantes Revisionistas foi a de ressuscitar as acusações antissoviéticas, lançadas nas décadas de 30 e 40.
A campanha anticomunista, formulada como estratégia daS "Big Lies" (grandes mentiras para alcançar grandes objetivos), foi criada por Goebells, ministro da Propaganda do III Reich. As grandes mentiras contra Stalin foram lançadas originalmente por Hitler para angariar apoio à invasão e destruição da URSS.
Todos os inimigos do Poder Soviético nada mais fizeram de original, apenas copiaram com alguma variação, a estratégia "Big Lies". O pesquisador Grover Furr analisou e estudou as 61 acusações lançadas por Nikita Kruschev, Secretário-Geral do PCUS contra Stalin, no famoso "Discurso Secreto" apresentado no encerramento do XX Congresso do PCUS, em 1956:
[...] Das 61 acusações, 60 são falsas e 1 acusação não tem prova que a corrobora. Cheguei a esta conclusão com base em longa pesquisa usando fontes de primeira mão, documentos na língua russa obtidos dos arquivos do Kremlin, que foram abertos por curto período, aos quais eu tive acesso [...]. (FURR, G. Kruschev Mentió. Caracas: Vadell Hermanos Editores, Venezuela, 2015)
Os efeitos práticos demolidores do famoso "Discurso Secreto" de Kruschev foram o racha do movimento comunista internacional e a divisão da aliança operário-camponesa que levaram ao afastamento do PCUS do Poder Soviétivo e à dissolução da URSS.

QUEM É O "INIMIGO INTERNO"?
Ao final, por caminhos tortuosos e complexos, os desígnios nazifascistas, ponta de lança do capitalismo financeiro internacional, foram alcançados. A despeito da resistência às ofensivas partidas de fora, oss Estados Soviéticos foram dinamitados por dentro.
A experiência histórica da construção do socialismo na URSS deixa intigrantes questões, ainda sem respotas, como:
- quem é o "inimigo interno"?
- quais os métodos corretos para desenvolver a luta de classes?
- qual o nível de divergência aceitável para implementação do poder socialista?
- qual o significa do dogma segundo o qual o socialismo só se edifica por meio da formação de cidadãos classificados pelo Regime Soviético de "homem novo"?
As instituições criadas sob a doutrina marxista-leninista priorizaram a infraestrutura - coletivização da produção agropecuária, industrialização, urbanização, habitação, saneamento etc. Tais instituições também produziram êxitos inquestionáveis na educação, ciência e tecnologia, com a conquista do espaço, dentre outras.
Contudo, as instituições falharam na edificação da superestutura encarregada da edificaçao da sociedade socialista nos aspectos culturais, políticos, jurídicos, religiosos e assistenciais, merecedoras de duras críticas que ofuscam os demais êxitos.
Enfim, o enigma: os bolcheviques, liderados por Stalin, permaneceram no Poder Soviético, após a sua morte, até os anos 1970, 80 e 90, a exemplo de Gorbachov, Kruschev, Brejnev, Mikoyan, Molotov, Malenkov, Kaganovitch, Voroshilov, Budionny e outros dirigentes do Politburo (Comitê Central) do PCUS.
Os dirigentes e burocratas do Politburo foram formados no processo revolucionário e na luta pela construção do Estado Soviético. Contraditoriamente, tanto os aliados de Stalin como os que se declararam, após sua morte, adversários dele, atuaram, de maneira ou de outra, ativa ou passivamente para a "desestalinização" da URSS, após o XX Congresso do PCUS, em 1956. 
Pode-se afirmar que, na prática, os bolcheviques contribuíram para destruir o socialismo no País dos Sovietes. Creio que a crítica correta ao bolchevismo difere da crítica trotsquista, já que esta se aproxima do anticomunismo e do revisionismo.

O CASO BÉRIA E A CONTRAREVOLUÇÃO
O esclarecimento sobre o caso Lavrentii Béria pode contribuir para elucidar questões complexas da experiência soviética. Béria foi um dirigente do Politiburo que foi executado logo após a morte de Stalin, a mando de Kruschev com apoio ativo ou passivo dos demais dirigentes do Presidium [Politburo]
São plausíveis de verificação as hipóteses de que:
[...] Béria foi executado por ter manifestado explicitamente a vontade de levar a cabo a democratização total do Poder Soviético na URSS, com o sufrágio universal, igualitário, direto e secreto, além de, como Comissário do Povo para Assuntos Internos (NKVD), deter informações vitais sobre os expurgos, deportações e execuções, que ele interrompeu por ordem de Stalin, representando terrível ameaça ao poder dos  Secretários Regionais, liderados pelo Secretário-Geral do PCUS Nikita Kruschev [...] (FURR, G. Stalin and the Struggle for Democratic Reform, Part One and Part Two. Cutural Logic 8, 2005). 
A história da URSS, após a morte de Stalin, expõe à toda prova que a condenação de Béria por ato de "traição à URSS" é uma clara evidência de que os seus executores atuaram para impedir o Projeto de Reforma Democrática do Poder Soviético, proposto por Stalin, inserido no Estatuto do Partido e promulgado na Constituição da URSS em 1937, cuja efetivação foi suspensa em decorrência da deflagração da Guerra Patriótica contra o Nazifascismo e, depois, jamais retomado sob o longo Império  Revisionista de Kruschev, Brejnev, Gorbachov e Yeltsin! 
Ludo Martens, dirigente marxista-leninista, fundador do Partido do Trabalho da Bélgica, analisa o retrocesso contrarrevolucionário causado pelo golpe revisionista de Kruschev, da seguinte forma:
[...] Depois da execução de Béria, Kruschev impôs-se como a figura dominante do Presidium. Em Fevereiro de 1956, no XX Congresso, inverteu completamente a linha ideológica e política do Partido. [...]
A luta entre as duas linhas, entre o marxismo-leninismo e os desvios burgueses, nunca cessou desde 25 de Outubro de 1917. Com Kruschev, a correlação de forças inverteu-se e o oportunismo [revisionistas defensores da política de conciliação com a burguesia para a realização de reformas pela via parlamentar], combatido e reprimido até então, apoderou-se da direção superior do Partido. O revisionismo utilizou essa posição para liquidar, passo a passo, as forças marxistas-leninistas. [...]
A eliminação da maioria marxista-leninista do Presidium foi possível graças à intervenção do Exército e, particularmente dos Secretários Regionais, que vieram em socorro de Kruschev [até então] colocado em minoria. As hesitações, a pouca perspicácia política e o espírito de conciliação de Molotovo, Malenkov e Kaganóvitch provocaram a sua derrota [...]. (MARTENS, L. Um outro olhar sobre Stáline. Anvers (Berchem), Bélgica: Editions EPO, 1994)
CONSEQUÊNCIAS DO GOLPE REVISIONISTA
A dissolução da URSS foi o resultados de longa luta de classes, na qual saiu vitoriosa a burguesia, representada na atual etapa do desenvolvimento do imperialista pelo monopólio do capital financeiro internacional. Os derrotados foram os trabalhadores sobre os quais foram lançados os escombros da demolição do Estado Socialista.
O colapso da URSS e a desmoralização do PCUS fizeram refluir o movimento revolucionário internacional. Aumentou a exploração sem limite da mais valia dos trabalhadores de todos os países do mundo, com sucessivos retrocessos das conquistas historicamente realizadas.
Cito dois exemplos eloquentes: na União Européia - UE, a "Troica" liderada pela Alemanha impôs uma política de cortes dos direitos sociais que destruiu o Estado do Bem-Estar Social e levou ao desemprego sem paralelo de até 50% da população nos países periféricos da UE como a Grécia.
No Brasil, o "fim da história" (jargão pós-deblack da URSS) tem seu paralelo na destruição do legado dos governos dos trabalhadores, realizado pela coligação democrático popular entre PT-PCdoB-PSB-PDT.
Dois anos após o impeachment sem crime de responsabilidade, que destituiu a Presidente Dilma, em afronta à Constituição Brasileira, em 16/04/2016, o Mundo testemunhou o surgimento de um novo tipo de golpe de Estado - golpe parlamentar-midiático-judiciário e o retorno da prisão política como arma de luta pelo poder. O Brasil Pós-Golpe lançou milhões de trabalhadores do campo e da cidade no Mapa da Fome, retrocedendo a história em décadas de atraso!

PERSPECTIVA: STALIN E LULA VIVEM
Na Rússia, o legado de Stalin permanece vivo; no Brasil, o legado de Lula não foi destruído. A esperança sobrevive. 
A luta do trabalho contra o capital encontra novas formas e será vitoriosa, ao final.