Osmar Pires Martins Junior - B.Sc. em Direito, M.Sc., D.Sc.
Reproduzo a íntegra do texto assinado
por juristas de renome mundial no combate à corrupção como Rose-Ackerman (EUA), Ferrajoli (Itália) e Garzón (Espanha), que exerceram cargos de Ministro da Justiça, Procurador-Geral de Justiça, Presidente da Ordem dos Advogados e da Corte Suprema de países como França, Portugal, Bélgica, México e Colômbia.
"Nós, advogados,
juristas, ex-ministros da Justiça e ex-membros de Cortes Superiores de Justiça
de vários países, queremos chamar à reflexão os juízes do Supremo Tribunal
Federal e, mais amplamente, a opinião pública do Brasil para os graves vícios dos
processos movidos contra Lula.
As recentes revelações do
jornalista Glenn Greenwald e da equipe do site de notícias The Intercept, em
parceria com os jornais Folha de São Paulo e El País, a revista Veja e outros
veículos, estarreceram todos os profissionais do Direito. Ficamos chocados ao
ver como as regras fundamentais do devido processo legal brasileiro foram
violadas sem qualquer pudor. Num país onde a Justiça é a mesma para todos, um
juiz não pode ser simultaneamente juiz e parte num processo.
Sérgio Moro não só conduziu o
processo de forma parcial, como comandou a acusação desde o início. Manipulou
os mecanismos da delação premiada, orientou o trabalho do Ministério Público,
exigiu a substituição de uma procuradora com a qual não estava satisfeito e
dirigiu a estratégia de comunicação da acusação.
Além disso, colocou sob
escuta telefônica os advogados de Lula e decidiu não cumprir a decisão de um
desembargador que ordenou a liberação de Lula, violando assim a lei de forma
grosseira.
Hoje, está claro que Lula não
teve direito a um julgamento imparcial. Ressalte-se que, segundo o próprio
Sérgio Moro, ele foi condenado por "fatos indeterminados". Um
empresário cujo depoimento deu origem a uma das condenações do ex-presidente
chegou a admitir que foi forçado a construir uma narrativa que incriminasse
Lula, sob pressão dos procuradores. Na verdade, Lula não foi julgado, foi e
está sendo vítima de uma perseguição política.
Por causa dessas práticas
ilegais e imorais, a Justiça brasileira vive atualmente uma grave crise de
credibilidade dentro da comunidade jurídica internacional.
É indispensável que os juízes
do Supremo Tribunal Federal exerçam na plenitude as suas funções e sejam os
garantidores do respeito à Constituição. Ao mesmo tempo, esperamos que as
autoridades brasileiras tomem todas as providências necessárias para
identificar os responsáveis por estes gravíssimos desvios de procedimento.
A luta contra a corrupção é
hoje um assunto essencial para todos os cidadãos do mundo, assim como a defesa
da democracia. No entanto, no caso de Lula, não só a Justiça foi
instrumentalizada para fins políticos como o Estado de Direito foi claramente
desrespeitado, a fim de eliminar o ex-presidente da disputa política.
Não há Estado de Direito sem
respeito ao devido processo legal. E não há respeito ao devido processo legal
quando um juiz não é imparcial, mas atua como chefe da acusação. Para que o
Judiciário brasileiro restaure sua credibilidade, o Supremo Tribunal Federal
tem o dever de libertar Lula e anular essas condenações."
Lista de Signatários
1) Bruce Ackerman, professor Sterling de Direito e Ciência Política,
Universidade Yale
2) John Ackerman, professor de Direito e Ciência Política, Universidade
Nacional Autônoma do México
3) Susan Rose-Ackerman, professora emérita Henry R. Luce de jurisprudência,
Escola de Direito da Universidade Yale
4) Alfredo Beltrán, ex-presidente da Corte Constitucional da Colômbia
5) William Bourdon, advogado inscrito na ordem de Paris
6) Pablo Cáceres, ex-presidente da Suprema Corte de Justiça da Colômbia
7) Alberto Costa, advogado, ex-ministro da Justiça de Portugal
8) Herta Daubler-Gmelin, advogada, ex-ministra da Justiça da Alemanha
9) Luigi Ferrajoli, professor emérito de Direito, Universidade Roma Três
10) Baltasar Garzón, advogado inscrito na Ordem de Madri
11) António Marinho e Pinto, advogado, antigo presidente da Ordem dos Advogados
de Portugal
12) Christophe Marchand, advogado inscrito na Ordem de Bruxelas
13) Jean-Pierre Mignard, advogado inscrito na Ordem de Paris
14) Eduardo Montealegre, ex-presidente da Corte Constitucional da Colômbia
15) Philippe Texier, ex-juiz, conselheiro honorário da Corte de Cassação da
França, ex-presidente do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
16) Diego Valadés, ex-juiz da Corte Suprema de Justiça do México,
ex-procurador-Geral da República
17) Gustavo Zafra, ex-juiz ad hoc da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Fonte: FOLHA DE S.
PAULO. Juristas estrangeiros se dizem
chocados e defendem libertação de Lula. São Paulo, jornalista Monica Bergamo, 11 ago. 2019.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home