Osmar Pires Martins Júnior
Bacharel em Direito, Agronomia e Biologia,
Doutor em C. Ambientais e Mestre em Ecologia
Os
defensores do processo de impedimento da Presidenta Dilma entram em
"parafuso" ou se desesperam quando ela se dirige às instituições
internacionais e à mídia externa e explica tim por tim (e não "plim por
plim") o que está acontecendo aqui dentro.
A Presidenta
embarcou para NY onde falará na Cúpula do Clima que vai homologar o Acordo de
Paris, assinado por 195 Nações, sob a liderança do Brasil e com o inédito
protagonismo dos EUA.
A mídia
interna nada falou ou falará sobre isso, mas tão somente o que a incomoda -
ela, o PiG, patrocina o golpe.
A
preocupação da mídia é que não se formou a unidade de opinião "contra o
PT" conforme foi tramado no enredo do golpe parlamentar, midiático e
judiciário.
A TRAMA
É a
intriga que constitui o esqueleto da narrativa que dá sustentação à história, ou
seja, permite o desenrolar dos acontecimentos.
Os fatos
vividos são relatados, experimentados, expostos por personagens sombrios e luminosos, de forma ordenada
em uma sequência lógica e temporal.
A trama
para depor a Presidenta de uma República que obteve 54,5 milhões de votos da
Sétima Economia do Mundo é complexa.
Ela vem se
desenrolando há anos, sob as bênçãos do olhar contemplativa de todos que tem
olhos de ver, numa trama que tudo tinha para bem desenrolar:
- "mensalão do PT" forneceu munição para o moralista e surrado discurso do "mar-de-lama", repetido quando conveniente pelo establishment contra Vargas, JK, Jango, Dilma e Lula;
- junho de
2013, um ano antes da Copa, explodem manifestações "contra tudo e contra todos";
- "não vai
ter Copa" e, depois, "vamos
passar vergonha na Copa";
- Dilma
"v.t.c."aos olhos de bilhões de telespectadores do mundo;
-
"mineiraço" Alemanha 7 x 1 Brasil ou grande frustração nacional;
- no início da campanha eleitora para Presidente 2014, morre Eduardo Cunha e infla-se
o balão mágico "Marina - fenômeno da nova política";
- aliança
Aécio-Marina seria tudo que precisava para isolar e derrotar politicamente o campo onde se encontram os personagens tenebrosos;
- 2º turno
Aécio x Dilma consagraria o "fim de uma era onde imperou o mar-de-lama".
Onde a
trama falhou? No seu final, que não foi o esperado. Mas, calma, ainda tem o enredo.
O ENREDO
Enredo da
história constitui a sequência de acontecimentos criteriosamente planejados
envolvendo fases imbricadas da apresentação, da complicação, do climax e do desfecho.
Apresentação
Nesta fase são desenvolvidos e colocados em cena os personagens sombrios e luminosos da trama.
Tais personagens estão ajustados ao figurino maniqueísta e, portanto, são apenas de dois tipos:
i) os
sombrios - os integrantes da organização criminosa que assaltaram o poder no
Brasil, quais sejam, todo e qualquer elemento que interessa à estratégia da trama; e,
ii) os
luminosos - aqueles que, corajosamente, investigam, acusam, julgam e condenam
os criminosos, livrando o Brasil do "mar de lama", resgatando o
orgulho nacional destroçado. Qualquer personagem que abandone o lado sombrio será beneficiado pelo setor judiciário e protegido pela mídia da trama, iluminado para sempre, com "delações-premiadas" perdão da pena, ficha limpa e 20% do saldo do produto do roubo.
Complicação
A complicação da história envolve situações de governo e desgoverno, desemprego, inflação, zika vírus,
tudo entrelaçado para justificar a atuação dos personagens.
Clímax
É o ponto de maior tensão da narrativa, coroada com a vitória consagradora e a derrota humilhante dos personagens
luminosos sobre os sombrios.
Por
exemplo: a prisão do preso e sombrio José Dirceu, enclausurado nas masmorras da República Curitibana de Guantánamo, há uma ano, como "Chefe da Organização Criminosa", foi um teste bem sucedido da Teoria do Domínio do Fato e preparatório do clima para alcançar a estratégia, prender, humilhar e liquidar Lula, este sim, o "verdadeiro Chefe".
Apesar de
incoerente, o clímax desencadeia uma situação favorável ao desfecho do enredo.
Desfecho
É a solução planejada do conflito entre o "Brasil dos luminosos contra o Brasil
dos tenebrosos".
Qual a
solução? A deposição do governo dos tenebrosos, antes do término legal, para
emergir um governo dos luminosos, tudo em nome da salvação
da pátria.
A VIDA
COMO ELA É
Os
personagens luminosos do Alto Comando do Golpe Judiciário traçaram a estratégia
da Lava-Jato.
Os
personagens da mídia monopolista dos meios de comunicação ou PiG - Partido
da imprensa Golpista colocaram em ação os personagens dentro da estratégia e tática desenhadas no enredo e na trama.
Os
luminosos do judiciário cumpriram o seu desiderato com esmero, em se tratando
de selecionar os alvos e condenar todo personagem sombrio arrolado no polo passivo da trama e do enredo.
Recentemente, no coroamento do enredo, ao justificar o voto pró-impeachment, os
luminosos do parlamento foram expostos á luz do dia, na votação da
admissibilidade do impeachment e se mostraram, ao vivo e a cores, piores do que os personagens mais sombrios.
O
personagem luminoso Eduardo Cunha, eleito Presidente da Câmara, com o objetivo
de preparar e consumar o golpe no
parlamento, se revelou um bandido chefe de uma assembleia de bandidos.
Este fato se constituiu num acontecimento esperado, mas que surpreendeu o mundo e o Brasil, fazendo surgir personagens não esperados pelos estrategistas do golpe parlamentar, midiático-judiciário.
PERSONAGENS INESPERADOS
Entrementes,
entrou em cena o personagem inesperado: as organizações sociais - Frente Brasil
Sem Medo e Frente Brasil Popular representando milhares de organizações de trabalhadores, camponeses, profissionais, intelectuais e artistas.
A centelha foi a "prisão coercitiva" do Lula, frustrada pela atuação surpreendente
de personagens inesperados.
Entrementes, a intriga
foi mantida em desfavor dos personagens sombrios com a suspensão da posse do
Lula como ministro da Dilma.
Paradoxalmente,
o Presidente da Câmara Federal foi mantido onde está para viabilizar a admissibilidade
do processo de impedimento, mesmo sendo réu em ação penal no STF, denunciado como possuidor de milhões de dólares em contas secretas no exterior.
JUSTA CAUSA?
É
despiciendo articular o fundamento da denúncia por crime de responsabilidade ao pedido de afastamento da Presidenta. Embora seja um escárnio, no caso, não importa. O STF é comissivo, até o momento, à causa de nulidade absoluta do processo de deposição da Chefe de Estado e de Governo da República Democrática Federativa do Brasil.
Qual seja, os pedidos arrolados na denúncia são dois: i) decretos orçamentários; ii) pedaladas fiscais ou manobras não
tipificam crimes de responsabilidade.
Portanto, são manobras
orçamentárias para cobrir déficits e não crimes de responsabilidade.
A atuação
do personagem mídia externa, ao contar com novas fontes internas - personagens inesperados, quebrou o monopólio
interno da opinião publicada pelo PiG.
Eis a
razão do desconforto dos personagens luminosos com a ida da Presidenta Dilma à
Sessão da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Publicações como o The New York Times, The Washington Post e The Economist (Estados Unidos), Der Spiegel (Alemanha), Le Monde (França), El País (Espanha), Público (Portugal), The Guardian (Inglaterra), Página 12 (Argentina) e até mesmo as redes de televisão norte-americana CNN e do mundo árabe Al-Jazeera, entre outras, denunciam a ameaça contra a democracia brasileira.
À GUISA DE CONCLUSÃO
O impeachment da Presidente Dilma difere radicalmente daquele que levou à deposição do Presidente Collor.
O primeiro mandatário-mor foi afastado com base em acusação de improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e corrupção com base em CPI que apurou assinaturas fantasmas de cheques de transferência de milhões para suas contas, no escandaloso e não esclarecido caso PC Farias,
Já no caso da primeira presidenta da nossa história, ocorre absurda inversão: são os acusadores os verdadeiros e comprovados envolvidos em atos de desonestidade contra a administração pública.
O senador Cristóvam Buarque (PPS-DF), concedeu entrevista ao repórter Roberto D'Ávila, em 20/04/2016, reveladora da ética política da conveniência, praticada à deslavada desfaçatez pelos algozes da democracia:
[...] O mais doloroso é votar para tirar Dilma e por Temer, num processo de impeachment que vem da Câmara Federal para o Senado contendo as mesmas de cheques que movimentam as contas secretas no exterior [...]
Por sua vez, o jornalista Marco Antonio Rocha, bacharel em direito e jornalista especializado em economia e finanças e coordenador editorial do jornal "O Estado de São Paulo", entrevistado pelo jornalista Paulo Markun no seu programa da TV Brasil, afirmou:
[...] Dilma não está sofrendo um golpe, mas uma sanção própria da política, que lança mão de todos os instrumentos constitucionais e legais possíveis, inclusive a destituição da Presidente que perdeu a condição de governar [...]
Está aí chave do enigma: uma Assembleia de Bandidos, comandada por um bandido, aplicou contra Dilma um remédio previsto no Regime Parlamentarista - o voto de desconfiança, e destituiu a Presidenta, que é a Chefe de Estado e de Governo, elegendo indiretamente para o cargo de Presidente, no lugar da deposta, o Vice-Presidente Temer à equivalência de um Chefe de Governo, que é a própria Presidenta deposta, transferindo ao usurpador a responsabilidade pela montagem de um "novo Gabinete de Governo", que é um Governo impostor constituído por golpistas.
Portanto, ocorre no Brasil, pela voz dos adeptos da trama ou enredo em curso, um Golpe de Estado contra a Presidente da República, eleita no Regime Presidencialista, pelo sufrágio universal do voto direto, que lhe conferiu o mandato até 31/12/2018, emanado da vontade soberana de 54,5 milhões de eleitores, em resultado homologado e legitimamente empossada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
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