QUE SEJA DEMOLIDA A MARGINAL E IMPLANTADO O PARQUE LINEAR BOTAFOGO
[...] as terras humosas que pisamos, o ar benfazejo que respiramos, as paisagens verdejantes que enxergamos, os mananciais caudalosos que haveremos de preservar para assegurar o abastecimento público e o bem-estar [...].
De acordo com estas diretrizes, os perímetros de nascentes e margens dos mananciais hídricos foram delimitados, bem como as matas e reservas de cerrado foram identificadas e preservadas.
Além disso, foi criado um cinturão verde de terras públicas, adquiridas pelo Estado, para a expansão sustentável da metrópole.
O arquiteto urbanista Attílio Corrêa Lima foi contratado pelo Estado de Goiás para elaborar o Plano de Implantação da Cidade, bem como os projetos de construção das obras públicas iniciais - Palácios, conjuntos habitacionais, parques, praças, vias públicas etc.
Todas as diretrizes de Godoy foram adotadas e implementadas por Attílio, de maneira que Goiânia foi dotada de um sistema de espaços livres rico e diversificado, com 120 metros quadrados de áreas verdes públicas por cidadão.
COMO FICOU
O plano da cidade começou a ser abandonado pelos dirigentes públicos após a década de 1950, com a eleição de Coimbra-Bueno para governador do Estado de Goiás.
A cidade de Goiânia se tornou, muito jovem, órfã tecnicamente de seus urbanistas criadores: o falecimento do arquiteto Attílio Corrêa Lima, em 1942 e o adoecimento grave que inabilitou Armando Augusto de Godoy, na mesma época.
A partir de então, a cidade instaurou o processo de dilapidação do patrimônio público, com a alienação ilegal de áreas públicas destinadas a parques, praças, escolas, hospitais e até de vias de comunicação.
O índice de área verde do solo - IAV de 100 m² per capita, calculado em 2008, tem sido progressiva e intensamente reduzido. O índice de dilapidação do patrimônio público de Goiânia é de 3,65% de espaços livres por pessoa/ano (MARTINS JUNIOR, 2008)¹.
O uso do solo urbano e rural tem sido cada vez mais insustentável, com a substituição da cobertura natural pela não natural, decorrendo a impermeabilização, o assoreamento e a degradação das drenagens naturais.
O INR - índice normalizado de referência é um indicador do uso do solo. Martins Junior (2013)² calculou que o INR de Goiânia evoluiu negativamente, de 1986 a 2010, de - 0,65 para -0,86.
O INR varia de -1 (cobertura do solo 100% não natural) a +1 (cobertura do solo 100% natural) e se constitui um indicador do desenvolvimento urbano: quanto mais negativo, mais insustentável; quanto mais positivo, mais sustentável.
Calculou-se o INR Geral de Goiânia, que indica tendência à insustentabilidade, inclusive na Macrozona Rural do Ribeirão João Leite. Legalmente, esta macrozona possui uso do solo sustentável, com o objetivo de preservar a bacia de abastecimento público da região metropolitana da capital.
Mas, infelizmente, até na Macrozona João Leite o INR tende para o extremo negativo, evidenciando a substituição da cobertura natural do solo pela condição não natural.
Em outras palavras, o desmatamento na na região da bacia inviabilizará, em curto espaço de tempo, o abastecimento público da população metropolitana de Goiânia.
COMO PODERIA FICAR
A defesa do Plano Original de Goiânia permitiu recuperar áreas públicas alienadas, doadas, invadidas ou griladas dos Parques Vaca Brava, Areião, Botafogo, Liberdade e Parque dos Beija-Flores no Setor Jaó, Bosque dos Buritis e Jardim Botânico.
O Parque Linear Botafogo também foi objeto de dois Termos de Compromisso firmados pela Prefeitura com o MP-GO: o primeiro, foi homologado judicialmente, em 1993 e segundo em 1995, determinando o afastamento das pistas das margens do córrego bem como a demolição das invasões em áreas de preservação permanente para a recuperação e implantação do Parque Linear Botafogo (MARTINS JUNIOR, 1996)³.
EM CONCLUSÃO
A marginal Botafogo é uma obra irracional, inviável, insustentável, ilegal e degradadora da qualidade de vida urbana, que simboliza o processo de dilapidação do patrimônio natural, cultural e ambiental de Goiânia.
Por isso, a atitude correta dos cidadãos e dos agentes públicos responsáveis é demolir as vias marginais e devolver ao córrego Botafogo os seus meandros e áreas de drenagem, recuperando o ambiente degradado, por meio do reflorestamento e implantação de um parque ao longo das margens do córrego Botafogo, desde a nascente no Jardim Botânico, até sua foz no Ribeirão Anicuns, numa extensão de 9,8 quilômetros.
_______
¹ MARTINS JÚNIOR, O. P. Arborização urbana & qualidade de vida: classificação dos espaços livres e áreas verdes. Goiânia: Kelps/Ed.UCG, 2007. 312 p.
² MARTINS JÚNIOR, O. P. Os fundamentos de gestão do espaço urbano para a promoção da função socioambiental da cidade: o caso de Goiânia. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais) - Goiânia: UFG, 2013. 338 f. Disponível no Repositório da Biblioteca da UFG: <http://
³ MARTINS JÚNIOR, O. P. Resgate do berço ecológico de Goiânia: atuação da Semma no período 1993 a 1996. Goiânia: Kelps; Núcleo de Comunicação e Relações Públicas - Semma, 2007. 102 p. CD. Disponível em: <http://www.kelps.com.br/
2 Comments:
Correção: onde se lê INR - índice normalizado de referência, leia-se INR - índice normalizado de remanescentes
A referência citada na nota n° 3 pode ser acessada conforme abaixo.
³ MARTINS JÚNIOR, O. P. Resgate do berço ecológico de Goiânia: atuação da Semma no período 1993 a 1996. Goiânia: Kelps; Núcleo de Comunicação e Relações Públicas - Semma, 2007. 102 p. CD. Disponível em: https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:US:df1eb4b2-14fb-46b0-a981-dd5ace6e00fd
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