Osmar Pires Martins Junior
O autor ingressou
na UFG pelo vestibular de Biologia, em 1976, sendo graduado em 1980 na
Modalidade Ecologia; foi monitor da disciplina Zoologia, no Instituto de
Ciências Biológicas – ICB, de 1978 a 1980, tendo como monitorando diversos
colegas da mais elevada conceituação e contribuição ao desenvolvimento da
sociedade.
Buscando uma
formação técnica mais aplicada ao desenvolvimento social, ingressou no curso de
Engenharia Agronômica pelo vestibular de 1978, sendo graduado em agosto de 1985. Durante o período de graduação na Agronomia exerceu a honrosa incumbência da representação estudantil, sendo eleito para os mandatos de presidente do Diretório Central dos Estantes – DCE/UFG (1981-82) e de
diretor da União Nacional dos Estudantes – UNE (1982-83).
UMA
LUTA VERDADEIRAMENTE POLÍTICA
A luta pela derrocada
da ditadura militar e a conquista da redemocratização do Brasil (1° de abril
1964 a 5 de outubro de 1988) foi verdadeiramente política, com “p maiúsculo”, envolvendo
os contendores entre os que faziam a verdadeira defesa dos reais interesses da
sociedade e os que, de forma direta ou dissimulada, advogavam os interesses do
autoritarismo, da concentração de riqueza, do latifúndio e do capital
financeiro monopolista nacional e estrangeiro.
A luta se
desenvolveu com foco no aspecto central da articulação política partidária, visando
ampliar as forças oposicionistas para derrotar o partido político que sustentava
a ditadura no Parlamento Nacional.
O jogo da luta
pela democratização do poder político envolveu todos os aspectos da vida
nacional. Sem isso, não haveria real transformação, mas apenas revezamento de
partidos no poder. A despeito disso, muitos analistas da vida política nacional
contemporânea julgam que o Brasil não realizou uma transição completa da
ditadura para a democracia, em face da deficiente efetivação de instâncias
verdadeiramente democráticas, a impunidade dos crimes de tortura, dentre outros
aspectos (VAZ DA SILVA, 2007;
WEICHERT, 2019).
Inobstante, tais
preocupações críticas referentes ao período de transição da ditatura para a
democracia estavam presentes entre os que lutaram contra a ditadura e pugnavam
pela transformação democrática, em face da necessidade de ampliar e aprofundar o
debate em todos os campos de atuação. O resultado pode não ter sido alcançado
na sua plenitude, como se pode constatar no contexto atual, o que deve ser
considerado para a correção e eliminação da herança autoritária.
Destaco uma
iniciativa aparentemente singela que, naquele período, teve a participação do
autor, ao lado dos estudantes da Escola de Agronomia Altamirando Muniz, Amélio
Martins Rodrigues, Lys Suyêne Barco Hernandes, Maria Izabel Cardoso, Donizete
Tokarski e Durval Fernandes Mota.
Durante os anos
1978 a 1982 foi criado o Grupo de Estudo de Agricultura Ecológica Integrada Cerrado.
Este grupo desenvolveu palestras sobre ecologia em escolas de 1° e 2° graus dentro do programa de extensão universitária e integração com a Comunidade. Cito o projeto protocolado sob n° 013031 09 out. 1980 DSG – Serviço de
Comunicações, patrocinado pela UFG, no valor de Cr$ 12.220,00 que, sob a coordenação
do professor Guilhermino de Paula Sousa, do Departamento de Biologia Geral da
UFG, promoveu seis palestras de duas horas cada em seis colégios selecionados.
O grupo realizou
treinamento e aperfeiçoamento dos seus integrantes, mediante participação em
curso e seminários sobre Agricultura Biológica e Ecológica. Os integrantes do
grupo cotizaram a inscrição e custeio de viagem, alimentação e hospedagem do
autor no 1° Curso de Agricultura Biológica, promovido pelo Departamento Técnico
Científico da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo
(AEASP), no período de 25 a 29/08/1980, com 40 horas.
O programa do
curso desenvolveu temas avançados e futuristas, como a “A crise da civilização,
o papel da agricultura e a agricultura biológica” com os Engs. Agrs. Luz Carlos
Pinheiro, Fernando de Mattos Pimenta, Walter Lazzarini Filho e José Zatz; “Fisiologia
Vegetal em Clima Tropical” com a Eng. Agr. Ana Maria Primavesi; “Manejo do Solo
em Regiões Tropicais” com o Eng. Agr. Odo Primavesi; “Técnicas e Práticas de
Agricultura Orgânica e Natural” com o Eng. Agr. Yoshio Tsuzuki; “Matéria
Orgânica” com o Eng. Agr. Edmar José Kiehel; “Plantas Inseticidas, Aromáticas e
Medicinais”, com o Eng. Agr. Mario Danalisio; “Manejo Integrado de Pragas”, com
o Eng. Agr. Adilson Paschoal; e um Dia de Campo “Visita a uma propriedade de
agricultura biológica”.
Os profissionais
egressos dos cursos da UFG, graduados durante o período da luta pela
redemocratização do país, contribuíram de diversas maneiras para o
desenvolvimento tecnológico soberano e sustentável da sociedade brasileira e
goiana, destacando-se, dentre outros de igual merecimento, o engenheiro
agrônomo Paulo Marçal Fernandes, graduado em Agronomia pela UFG (1979 a 1983),
mestre e doutor em Entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (ESALQ - USP). O professor Paulo Marçal é titular de Entomologia da
Escola de Agronomia da UFG, produtor orgânico e dirigente da Associação para o
Desenvolvimento da Agricultura Orgânica em Goiás (ADAO–GO), formada por
produtores e consumidores de gêneros orgânicos.
O
MOVIMENTO ESTUDANTIL
No período em
comento, de luta pela redemocratização da universidade e do país, o autor
integrou uma geração de estudantes contribuintes à conquista de anseios democráticos,
a começar pelo direito à legítima representação dos estudantes, com a reorganização
das entidades estudantis.
CENTROS
ACADÊMICOS
Nesse período, foram
reconstruídos os Centros Acadêmicos dos cursos universitários, a exemplo dos
cursos de Biologia e de Agronomia da UFG. Nilson Jaime, auditor fiscal do estado do
Tocantins, doutor e mestre em Agronomia pela UFG, membro titular do Instituto
Histórico e Geográfico de Goiás, escreveu sobre a epopeia de lutas dos estudantes,
no livro Estrela do Cerrado: a escola de
Agronomia da UFG, a ser lançado no Encontro dos Ex-Alunos de Agronomia,
versão 2019, verbis:
[...] As conquistas eram resultado de muita luta!
A chapa Voz Ativa, de 1980, do Centro Acadêmico Livre
de Agronomia, era presidida por Altamirando Muniz Filho (Miranda), e tinha
entre seus membros Osmar Pires
Martins Junior (hoje agrônomo, biólogo e
advogado, ex-presidente da Agência Ambiental) e Carlos Henrique - os três foram
presidentes do DCE, da UEE e diretores da UNE Nacional - e este autor [Nilson
Jaime], diretor de Imprensa e Divulgação do C.A.
A divulgação das ideias se dava por meio de impressos,
replicados em mimeógrafos a álcool ou a tinta.
A pauta da chapa "Voz Ativa" tinha reivindicações
capitais, como o "Fim da Lei do Boi" (que reservava 50% das vagas a
filhos de fazendeiros), finalmente revogada por pressão dos estudantes.
Algumas reivindicações foram posteriormente atendidas,
como: implantação do Receituário agronômico; instalação da Assembleia Nacional
Constituinte; paridade das representações acadêmicas (1/3 para professores,
estudantes e funcionários); implantação das disciplinas "Iniciação à
Agronomia" e "Controle Ecológico e Integrado de pragas"; ônibus
específico para aulas práticas; ônibus gratuito entre a EA e o Campus II; e
outras.
Dentre os presidentes do C.A de Agronomia, sairia um
reitor: Alan Kardec Barbiero, tornar-se-ia professor e reitor da Universidade
Federal do Tocantins (UFT), em Palmas. [...]
DCE/UFG
O autor foi um dos
reorganizadores do DCE/UFG que, de 1964 a 1980,
foi atrelado à cúpula ditatorial do Ministério da Educação e Cultura – MEC, que
nomeava os seus dirigentes. O domínio arbitrário das entidades estudantis foi
interrompido com a conquista da eleição direta da primeira diretoria do
DCE-Livre, tendo à frente Elias Rassi Neto, hoje médico e professor-adjunto do
Instituto de Patologia Tropical da UFG.
O autor foi eleito
presidente do DCE-UFG para a gestão 1981-1982, quando organizou e deflagrou a
Greve-Geral da UFG que, durante dois meses de paralização geral, tendo, inclusive,
a adesão dos estudantes da Universidade Católica de Goiás – UCG (hoje PUC-GO), por
meio do DCE-UCG, obteve importantes conquistas. Nesse sentido, se transcreve
notícia publicada na capa da imprensa escrita, com ampla repercussão, sobre
fato que marcou a história da luta democrática na universidade e na sociedade, verbis:
[...]
Os estudantes da Universidade Federal de Goiás estão em greve. Esta decisão foi
tomada ontem de manhã, durante assembleia-geral realizada no Ginásio de
Esportes da UCG e que reuniu cerca de 3 mil estudantes. No encontro os alunos
indicaram a greve geral como única forma de luta por maiores verbas para a
educação, democratização da universidade e modificação na política educacional
do Governo. [...] No período da noite, os alunos da Universidade Católica de
Goiás também resolver entrar em greve, em assembleia realizada na Praça
Universitária. (Páginas 14 e 15) [...] (FOLHA DE GOIAZ. 15 mil universitários em greve. Goiânia, 4 set. 1981, capa).
Como transcrito na
notícia acima, a pauta de reivindicação do DCE-UFG era ampla, confrontando a
política privatista da ditadura militar, pugnando pelo ensino público e
gratuito, mais verbas para educação, democratização da universidade. Uma
importante conquista do movimento paredista foi a implantação do processo de eleição
direta para Reitor e Diretores de Faculdades, por meio do voto dos três
segmentos da Comunidade Universitária – estudantes, professores e servidores.
O próximo Reitor
da UFG, professora Maria do Rosário Cassimiro, em sucessão ao mandato do reitor
José Cruciano de Araújo, se deu por eleição direta. O processo de consulta foi
aprovado pelo Conselho Universitário, que referendou a lista sêxtupla dos mais
votados e a enviou ao MEC, então dirigido pelo General Rubem Ludwig, para a
nomeação do mandatário maior da universidade.
A UFG foi a
primeira universidade pública a promover a democratização interna, num período
ainda dominado pelo autoritarismo, durante o qual a regra era a nomeação dos
dirigentes das instituições públicas – os reitores das universidades, os prefeitos
das capitais e cidades de “interesse nacional”, os governadores de Estado e o presidente
da República. O cidadão era tolhido do direito básico mais elementar, qual seja, exercer o sufrágio universal e eleger pelo voto direito e secreto os dirigentes públicos do país.
A greve geral dos
DCEs da UFG e da UCG, a conquista da eleição direta do Reitor e dos Diretores
de Faculdades da UFG, representou uma vitória da luta democrática do país e uma
derrota do governo de exceção. Esta avaliação conclusiva se extrai do dossiê nº
R0022020 do Serviço Nacional de Informação - SNI, de 10/03/1982, arquivado no
Arquivo Nacional, verbis:
[...]
O DCE UFG e DCE UCG lideraram, nos períodos de 03 a 28 set. 81 e 03 a 20 set
respectivamente, movimentos grevistas nas universidades de Goiânia, em repúdio
à política educacional do MEC e por mais verbas para a educação, além de um
elenco de outras reivindicações regionais e nacionais, preconizadas pela UNE.
Apesar do desgaste [...], paradoxalmente, os principais líderes do movimento
saíram fortalecidos, visto que paralisaram com razoável nível de mobilização,
duas universidades [...] (BRASIL, 2008, p. 13).
UNE:
REFERÊNCIA DEMOCRÁTICA
A reconstrução da União
Nacional dos Estudantes, em 1979, é um capítulo importante da luta pela
redemocratização. A entidade foi declarada clandestina e proibida de funcionar
pelo regime de exceção, instaurado em 1964. Nesse período, houve intensa atividade
para eleger os delegados ao Congresso de Salvador e para promover a eleição direta
da primeira diretoria da UNE Livre, em todo o território nacional, que teve à
frente o presidente Aldo Rebelo. Este se tornou, posteriormente, deputado
federal, por vários mandatos, destacando-se na atuação parlamenta como presidente
da Câmara Federal e autor da Lei Florestal nº 12.727/2012 que atualizou o
Código Florestal – Lei n° 4.771/1965.
UNIVERSIDADE
PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE
O autor foi eleito
diretor da UNE para a gestão 1982-1983, durante a qual foi responsável pela
condução do debate nacional da proposta da Reforma Universitária. Nesse
sentido, contribuiu para organizar o I Seminário de Reestruturação da
Universidade Brasileira, realizado na PUC-SP, de 2 a 4 de setembro de 1983.
O evento foi uma
iniciativa inédita, promovida em conjunto pela UNE, Associação Nacional dos
Docentes de Ensino Superior - ANDES e Federação dos Servidores das
Universidades Brasileiras - FASUBRA. Até os espiões do
SNI ou “arapongas” registraram no dossiê nº A0377508 do SNI, de 12/09/1983,
arquivado no Arquivo Nacional, que, verbis:
[...] O mérito do encontro foi o de
colocar juntos três segmentos mais importantes da Comunidade Universitária, os
quais demonstraram interesse cada vez maior de ocupar o espaço que julgam
pertencer-lhes [...] (BRASIL, 2008, p. 26).
UMA
CONQUISTA ESTRATÉGICA
A discussão
conjunta UNE-ANDES-FASUBRA abriu as portas para a reformulação do ensino
nacional, lançou as bases para a reestruturação da universidade, que
proporcionou o aumento vertiginoso das vagas nas universidades públicas e nos
centros federais de educação superior do país, permitindo o ingresso de milhões
de estudantes pobres e excluídos.
A luta democrática
na UFG, nesse período, forjou a formação de profissionais que efetivamente contribuíram
para implementar o Plano Nacional de Educação – PNE, uma aspiração democrática
de longa data. Sem excluir muitos outros nomes importantes, cito aqueles que
foram contemporâneos na Escola de Agronomia da UFG e que vieram a se tornar
reitores, os professores Edward Madureira Brasil, eleito três vezes reitor da UFG,
Alan Kardec Martins Barbiero e Márcio da Silveira, eleitos para os mandatos de Reitor da Universidade Federal do Tocantins – UFT durante os respectivos períodos de 2003
a 2012 e 2012 a 2016.
DEMOCRATIZAÇÃO
DA UNIVERSIDADE E DA SOCIEDADE
Como diretor da
UNE, nos idos do período de redemocratização, o autor integrou uma geração de
brasileiros que levaram a frente um programa de luta associado historicamente
ao avanço democrático da sociedade brasileira, como:
i)
União
da Oposição para Derrotar o PDS nas eleições para Governadores de Estado, em
1982;
ii)
Diretas-Já
em 1984, amplo movimento de massa pela aprovação da Emenda Constitucional Dante
de Oliveira;
iii) Movimento de Apoio
à Candidatura Tancredo Neves, deflagrado em sequência à derrota da Emenda das
Diretas-Já, para derrotar o PDS no Colégio Eleitoral, em 1985, formado por um
Congresso Nacional dominado por senadores biônicos e sitiado pelas forças
repressivas do Exército;
iv) Assembleia
Nacional Constituinte, um dos programas populares mais importantes que
condicionou o apoio á Candidatura Tancredo no Colégio Eleitoral, compromisso
esse realizado com a promulgação da Constituição Cidadã, de 5 de outubro de
1988, marco histórico do fim do período ditatorial instaurado em 1° de abril de
1964.
DIRETAS-JÁ!
Os estudantes
universitários do período geracional em tela se inseriram num programa exitoso
de luta democrática, conforme se depreende da leitura do dossiê nº A0428905, do
SNI, de 10/04/1984, arquivado no Arquivo Nacional, verbis:
[...]
As organizações subversivas atuantes no Brasil vem participando intensamente na
campanha pelas eleições diretas para Presidente da República. Tal campanha,
[...] representa, na verdade, um trabalho desenvolvido por agentes da
subversão, utilizando políticos de oposição, com o objetivo de tomar o poder.
Não tem comparecido um grande número de pessoas (sic), como tem sido divulgado,
mas a ação de propaganda desenvolvida e os testes efetuados para a mobilização
das massas, pelas organizações subversivas, preocupam. Estas organizações
buscam, também, com a participação nessa campanha pelas diretas, a sua
autopromoção. Fazem, para isso, uma grande propaganda em torno de seus nomes,
com a venda de camisetas, jornais e empunhadura de suas bandeiras nos eventos
pró-diretas, além de pregar suas ideologias e treinar seus militantes nas
atividades de agitação e mobilização de massas. Relação de eventos pró-diretas
ocorridos no período de 27 nov. 83 a 29 fev. 84 contendo: local, data,
coordenadores, número de participantes, elementos e organizações que se
destacaram em cada evento. [...] (BRASIL, 2008, p. 47).
DERROTA
DO PDS NO COLÉGIO ELEITORAL
A rejeição da
Emenda Dante de Oliveira foi imediatamente superada pela continuidade da luta
pela democratização do país, com um programa mínimo apresentado ao candidato
Tancredo Neves para derrotar o partido da ditadura – PDS dentro do seu quintal,
o Colégio Eleitoral, como se constata no dossiê nº R0089448, do SNI, de
09/05/1984, verbis:
[...] O Comitê Suprapartidário Pró Eleições Diretas
em Goiás, apesar da rejeição da Emenda Dante de Oliveira, não pretende
arrefecer sua luta visando alcançar as eleições diretas já. Nesse sentido,
convocou seus membros para uma reunião, em 03 maio 84, na Câmara Municipal de
Goiânia GO onde, após analisarem a situação política a nível nacional e
estadual, [...] decidiram elaborar um novo esquema de atuação no qual está
contido: concentrações públicas e passeatas, ridicularização dos parlamentares
que foram contra a emenda em apreço, distribuição de grande material
panfletário, comícios relâmpagos, diálogos com políticos visando cobrar-lhes um
posição quanto as diretas e outras modalidades de comunicação com a massa
popular [...] (BRASIL, 2008, p. 42).
ASSEMBLEIA
NACIONAL CONSTITUINTE
Eleito Tancredo
Neves, a democratização do país prosseguiu com a convocação da Assembleia
Nacional Constituição, elaboração e participação popular, mediante coleta de um
milhão de assinaturas de cidadãos identificados – RG e CPF, em apoio às Emendas
Populares em prol do meio ambiente sustentável, das garantias e dos direitos
fundamentais, da Soberania Nacional e do Estado Democrático de Direito.
REFEXOS
DA LUTA NA SOCIEDADE
Os profissionais
formados pela UFG no período de luta contra a ditadura militar, além de
contribuírem para o aperfeiçoamento dos métodos e técnicas específicos das suas
categorias, foram decisivos para o processo de formação de uma sociedade
democrática.
O autor participou
do processo constituinte de elaboração popular da Carta Magna Nacional e, com
maior intensidade, da Carta Estadual de Goiás. Os representantes de dezenas de
entidades sindicais e de categorias profissionais do estado de Goiás, reunindo,
ao final, 38 entidades, dentre elas o Conselho Regional de Agronomia – CREA/GO,
por intermédio do autor, na condição de Presidente da Associação dos Biólogos
de Goiás - ABG, de 1987 a 1992, apresentaram no Plenário da Constituinte
Estadual de Goiás a Emenda Popular sobre o meio ambiente.
A Emenda foi
aprovada e inserida integralmente como capítulo da vigente Constituição do
Estado de Goiás, com exceção de um único artigo, que previa a implantação de
unidades de conservação em 10% do território estadual de Goiás. A Carta Constitucional,
promulgada em 1990, é o resultado direto ou indireto da formação democrática de
profissionais pelos cursos da UFG, contribuindo para a institucionalização de
uma República Federativa fundada no Estado Democrático de Direito.
Nesse sentido, colaciono
o seguinte registro, verbis:
[...]
Trinta e duas entidades ambientalistas goianas apresentaram ontem aos deputados
constituintes um detalhado manifesto, em que apelam para a aprovação do artigo
18 da Proposta Popular sobre Proteção e Preservação do Meio Ambiente [...] (O
POPULAR. O Manifesto Ambientalista.
Goiânia, 16 set. 1989)
No caso em tela, as entidades ambientalistas,
sindicais e profissionais, por meio de dirigentes imbuídos de formação
democrática, tomaram para si a responsabilidade de elaborar, defender e aprovar
capítulos inteiros, como o do Meio Ambiente, e diversos artigos que consagraram
normas de direitos individuais e garantias fundamentais ao desenvolvimento
humano sustentável em Goiás.
A imprensa
regional consignou importantes conquistas realizadas no período transicional da
ditadura para a democracia em Goiás, verbis:
[...] A nova Constituição Estadual
traz muitas novidades no seu Capítulo V, da Proteção dos Recursos Naturais e da
Preservação do Meio Ambiente. Em seus seis artigos, ela define uma série de
obrigações do Estado, entre as quais destacam-se [...] a preservação de
essências nativas e ecossistemas sensíveis; criação de unidades de preservação
assegurando a integridade de, no mínimo, 20% do seu território e a
representatividade de todos os tipos de ecossistemas nele existentes [...];
recuperação do ambiente degradado, inclusive em decorrência da exploração
mineral; e a criação de um Fundo Estadual do Meio Ambiente [...]
Também entre as obrigações do
Estado estão inserir a educação ambiental em todos os níveis de ensino e promover
a conscientização ambiental; controlar e fiscalizar [o meio ambiente];
destinar, no orçamento anual, recursos para a manutenção dos parques estaduais,
estações ecológicas e áreas de preservação permanente e exigir a utilização de
práticas conservacionistas que assegurem a potencialidade produtiva do solo e
coibir o uso de queimadas como técnica de manejo agrícola [...] (O POPULAR. Nova Carta Inova na Área do Meio Ambiente.
Goiânia, 5 out. 1989, p. 5)
Osmar Pires
Martins Junior é bacharel em Direito pela UNIP (2011 a 2014), em Biologia pela
UFG (1976 a 1980) e em Agronomia pela UFG (1978 a 1985); especialista em
Engenharia da Irrigação pela Escola de Agronomia da UFG, em 1988; mestre em
Ecologia pela UFG, em 2002; doutor em Ciências Ambientais pela UFG, em 2013;
foi secretário municipal do Meio Ambiente de Goiânia de 1993 a 1996; presidente
da Agência Goiana do Meio Ambiente de 2003 a 2006; perito ambiental do
Ministério Público do Estado de Goiás de 1997 a 2002; é aposentado como Fiscal
Estadual Agropecuário da AGRODEFESA desde dez. 2018, após 37 anos de serviço
público.
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