Blog do Osmar Pires

Espaço de discussão sobre questões do (ou da falta do) desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira e goiana, em particular. O foco é para abordagens embasadas no "triple bottom line" (economia, sociologia e ecologia), de maneira que se busque a multilateralidade dos aspectos envolvidos.

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Pós-Doc Dir. Humanos PPGIDH-UFG, D.Sc. C. Ambientais, M.Sc. Ecologia, B.Sc. Direito, Biologia e Agronomia. Escritor Academia de Letras de Goiânia. Autor de A gestão do espaço urbano e a função socioambiental da cidade. Londrina, PR: Sorian, 2023. 404p. O efeito do combate à corrupção sobre os direitos humanos... Goiânia: CegrafUFG, 2022. 576p. Família Pires... 3. ed. Goiânia: Kelps, 2022. 624p. Perícia Ambiental e Assistência Técnica. 2. ed. Goiânia: Kelps/PUC-GO, 2010. 440p. A verdadeira história do Vaca Brava... Goiânia: Kelps/UCG, 2008. 524p. Arborização Urbana e Qualidade de Vida. Goiânia: Kelps/UCG, 2007.312p. Introdução aos SGA's... Goiânia: Kelps/UCG, 2005. 244 p. Conversão de Multas Ambientais. Goiânia: Kelps, 2005, 150p. Uma cidade ecologicamente correta. Goiânia: AB, 1996. 224p. Organizador/coautor de Lawfare como ameaça aos direitos humanos. Goiânia: CegrafUFG, 2021. 552p. Lawfare, an elite weapon for democracy destruction. Goiânia: Egress@s, 430p. Lawfare em debate. Goiânia: Kelps, 2020. 480p. Perícia Ambiental Criminal. 3. ed. Campinas, SP: Millennium, 2014. 520p. Titular da pasta ambiental de Goiânia (93-96) e de Goiás (03-06); Perito Ambiental MP/GO (97-03).

Tuesday, December 25, 2018

UMA CRÍTICA MARXISTA-LENINISTA À SÉRIE TROTSKY, DA NETFLIX

Osmar Pires Martins Junior
D.Sc., M.Sc., B.Sc. em Direito

Depois de 100 anos da Revolução de Outubro de 1917, a televisão russa produz um documentário sobre fatos que marcaram a história da Humanidade, na série de biografia épica Trotsky.
Curiosamente, o personagem que vem à tona é Leon Trotsky, um revolucionário menchevique que ingressou no Partido Comunista Russo bolchevique - PCR(b) às vésperas da Revolução de Outubro, opositor histórico de Lenin e do bolchevismo.
O Partido Operário Social-Democrata Russo - POSDR, em face das suas frações e disputas intestinas entre a maioria (bolcheviques) e a minoria (mencheviques), se revelou um partido incapaz de comandar a aliança operário-camponesa e cumprir o seu desafio histórico-revolucionário. 
Por isso, Lenin fundou o PCR(b), em 1912, com o objetivo de dirigir a Revolução Socialista, à frente do movimento operário e camponês, realizada em Outubro de 1917. 

A HISTÓRIA COMO ELA É
A história registra implacavelmente o papel de cada personagem no processo revolucionário de transformação da sociedade e da vida em todos os campos de atuação humana. 
A objetividade histórica trata de colocar as opiniões subjetivas sempre nos devidos trilhos da história, não como verdades absolutas, mas verdades falíveis, sujeitas a correções no sentido de aproximá-las da realidade objetiva.
A Revolução de Outubro de 1917 cumpriu o papel decisivo de inaugurar na história um novo processo de formação econômico-social baseado na socialização dos meios de produção, com a abolição da propriedade privada.

A URSS
A nova formação econômico-social de caráter socialista foi implantada pelo PC(b) e abarcou 15 Países na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS, além de influenciar a formação de inúmeros outros países socialistas em todos os continentes. 
Uma obra de tamanha envergadura é produto histórico de classes sociais revolucionárias, o proletariado e o campesinato, embasada na teoria marxista-leninista, formulada por Marx, Engels e Lenin. 
A deturpação da história não resiste ao confronto com a realidade dos fatos históricos; dessa maneira, a série Trotsky da Netflix declara de chofre o seu intuito falsificador com a afirmação:
- "o capital financeiro ocidental patrocinou a Revolução de Outubro, pois temia uma Rússia capitalista ".
A série Trotsky agride a história, pois a Rússia Czarista jamais afrontou o Ocidente. Ao contrário, da Revolução de Outubro nasceu a URSS que despertaram a ira de todas as potências capitalistas do ocidente - EUA, Grã Bretanha, França, Alemanha, Itália e do oriente - Japão. 

WELFARE STATE 
O socialismo, e não o capitalismo, promoveu o desenvolvimento dos povos soviéticos. Mesmo após a auto dissolução da URSS, em 1991, associada aos enormes retrocessos sociais em todo o mundo, os países europeus foram obrigados a instituir o Welfare State como alternativa à revolucionária formação econômico-social socialista. 
F. Hayek, pai do neoliberalismo ortodoxo, afirmou que sem a Revolução Russa, o estado do bem-estar social não existiria na Europa. 
Esta e outras contradições marcam a série da televisão russa sobre Trotsky, na qual ele se autoproclama:
- "eu sou o aliado e único herdeiro de Lenin; eu fui o estrategista da Revolução Socialista de Outubro; eu a realizei e entreguei de mão beijada para os bolcheviques; eu criei a União Soviética".


APONTAMENTOS PARA UMA 'CRÍTICA FACTUAL'
Em seguida, destaco alguns fatos desenvolvidos nos oito episódios da série de biografia épica sobre Trotsky, da Netflix, que poderão ser confrontados por qualquer pessoa interessada com os fatos históricos da Revolução Soviética.

Frank Jacson (1913-1978)
A série se desenvolve a partir dos diálogos entre o revolucionário russo e o catalão Ramón Mercader, agente da NKVD, disfarçado de jornalista canadense Frank Jacson.
No primeiro encontro com Trotsky, o agente disfarçado diz: 
- "Stalin é um grande estadista e visionário".
Trotsky, de pronto, responde: 
- "ele é um medíocre, um zero a esquerda, paranoico, ambicioso e ganancioso". 
Trotsky foi assassinado por Mercader em 1940. Stalin faleceu de derrame cerebral em 1953. 
O revisionista Kruschev denunciou Stalin no famoso discurso secreto "O culto à personalidade e os crimes de Stalin", pronunciado no plenário de encerramento do XX Congresso do PCUS, em 1956.
Curiosamente, o assassino de Trotsky, Ramón Mercader, foi condecorado não por Stalin, mas por seu caluniador Kruschev que, em 1961, concedeu ao assassino a "Ordem de Lenin - herói da União Soviética", uma das mais altas comendas do país.

Odessa, 1898
No episódio seguinte, para surpresa de muitos revolucionários, a narrativa de Trotsky remonta à prisão czarista de Odessa, mostrando que o prisioneiro Leon Bronstein adotou o codinome Leon Trotsky por influência do chefe da prisão, o policial N. Trotsky, adepto do método do terror contra os prisioneiros da polícia czarista para o controle da ordem prisional.   

Alexander Parvus
Após a fuga da prisão de Odessa, a série segue com Trotsky exilado no exterior, em Londres e Viena, onde permaneceu de 1902 a 1917, até a véspera da Revolução de Outubro.
O teórico marxista russo de origem judia, Alexander Parvus, patrocinou financeiramente a atividade revolucionária de Trotsky no exterior, a partir de fontes bancárias dos países capitalistas ocidentais.
O interesse do patrocínio ao revolucionário Trotsky seria criar uma liderança alternativa a Lenin e aos bolcheviques. 
O produtor da televisão russa explicou este fato quando do lançamento da série pela grande mídia mundial:
[...] Os fatos são fundamentados em acontecimentos reais. O Ocidente queria destruir a Rússia com uma Revolução para impedir que ela se tornasse uma potência capitalista [...] (Alexandre Tsekalo, produtor da série Trotsky)
No exílio, bem vestido e alimentado, a série mostra Trotsky confrontando Lenin e o desafiando:
- "eu serei o novo líder e você virá se ajoelhar perante mim".

Bruxelas, 1903
Na Conferência do POSDR, em Bruxelas, a fração menchevique obteve a maioria dos votos, com um discurso de Trotsky que "encantou Lenin e Stalin, fazendo-os de bobos".
O POSDR estava em franco preparativo para a primeira Revolução, em 1905, que foi fragorosamente derrotada pelo czarismo. A respeito da derrota, a série Trotsky insinua que sem ele não haveria Revolução Russa, transcrevendo o diálogo com Frank Jacson, interlocutor de Trotsky em todos os episódios da série: 
- "A revolução russa não aconteceu, em 1905, porque o povo não tinha armas e não havia plano".

A quem se deve a Revolução Socialista de Outubro de 1917? 
A afirmação do menchevique Trotsky de que "ele fez" a Revolução de Outubro foi contrastada pela própria série da televisão russa. 
Lenin, avaliando as causas da derrota da primeira Revolução Russa, de 1905, concluiu que o POSDR era incapaz de comandar uma revolução socialista. 
Na Conferência do POSDR de janeiro de 1912, em Praga, o bolcheviques foram eleitos em esmagadora maioria para o Comitê Central. 
Os bolcheviques, então, decidiram fundar o Partido Comunista Russo - PCR(b) e seu jornal, o PravdaTrotsky, ao contrário de se aliar a Lenin, fez oposição a ele, permanecendo no POSDR perfilado com os mencheviques.
Trotsky participou dos eventos revolucionários russos como um menchevique, membro do Conselho Executivo do Soviete de Petrogrado, então Presidido pelo seu companheiro menchevique Martov.
Por sua vez, a Revolução Socialista de Outubro de 1917 foi resultado do trabalho coletivo de preparação, organização e liderança dos revolucionários bolcheviques do PCR(b) em aliança com os operários e camponeses, e não dos mencheviques do POSDR. 
A série estampa manchetes dos jornais de Petrogrado (depois Leningrado, atual São Petersburgo) que demonstram a participação decisiva dos bolcheviques na segunda (fev. 1917) e na terceira (out. 1917) Revolução Russa: 
- "Meio-milhão participa de ato pró-bolchevique em Petrogrado";
- "Revolucionários socialistas acusam os bolcheviques de conspiração";
- "Operários e soldados exigem renúncia do Governo Provisório".


Revolta de Kronstadt, 1917
A convite de Lenin, Trotsky foi aceito pelo Politburo do PCR(b) e se filiou ao partido bolchevique, integrando a Executiva do Comitê Central. 
Na condição de dirigente bolchevique e agora Presidente do Soviete de Petrogrado, Trotsky comandou a Revolta de Kronstadt que, segundo ele, seria a fagulha para a Revolução Socialista. No entanto, a revolta resultou num massacre dos bolcheviques pelos cossacos, a serviço do governo provisório do menchevique Kerensky. 
A liderança bolchevique foi perseguida implacavelmente, alguns  presos e mortos, enquanto outros tiveram que fugir da Rússia para não sofrer o mesmo destino, como Lenin e Stalin.
Com o esmagamento da revolta, os membros do Politburo do PCR(b) se exilaram e Trotsky se apresentou voluntariamente ao governo provisório, na presença de Kerensky, declarando-se autor da revolta, foi preso e em seguida solto pelo próprio Kerensky. 

Trotsky, Zinóviev e Kámenev
De acordo com a biografia épica produzida pela tevê russa, Trotsky planejou e realizou a Revolução Socialista de Outubro de 1917, em parceria com Zinóviev e Kámenev.
A contradição é flagrante: embora Trotsky fosse o Presidente do Soviete de Petrogrado, ele estava há apenas 6 meses no PC(b). Trotsky não reunia condições morais e políticas para liderar os bolcheviques, que o viam como menchevique, portanto, era tratado com desconfiança.
Além do mais, esse fato agride a realidade histórica, já que Zinóviev e Kámenev, os "aliados" de Trotsky na organização e realização da Revolução de Socialista de Outubro, foram votos vencidos na reunião do Politburo acerca da insurreição armada de Outubro de 2017.
Insatisfeitos com a decisão do Politburo, Zinóviev e Kámenev divulgaram no jornal semimenchevique Nóvaia Jizn uma declaração desaprovando a resolução sobre a insurreição armada. 
Dessa forma, ao invés de organizar a revolução, Trotsky e seus "aliados" vazaram uma decisão secreta, traindo a Revolução Socialista de Outubro de 1917.

Tukhachevsky e Trotsky
No dia 18/08/1918, quando Lenin sofreu um atentado, mas sobreviveu a três tiros disparados por Funni Kaplan, uma anarquista ucraniana, a série mostra que Trotsky manteve um encontro com o oficial Tukhachevsky, oriundo das Forças Armadas czaristas, no qual este revela àquele: 
- "meu sonho é servir a Rússia como um Napoleão Bonaparte".

Bonapartismo e revolução permanente
A série insinua que nasceu ali a aliança entre o oficial e Trotsky, baseada nos interesses comuns do "bonapartismo", uma corrente do Exército Vermelho, liderada por Tukhachevsky e da "revolução mundial permanente", defendida por Trotsky. 
Ambos partilharam a visão de um Poder de Estado fundado na disciplina militar da sociedade soviética e na exportação da revolução socialista, a partir da expansão, ocupação e anexação militar de territórios, povos e nações. 
De acordo com o professor doutor Grover Furr, da Universidade Estatal de Nova Jérsei, nos processos de Moscou (1937, 1938 e 1939) foram apurados uma conspiração para desferir um golpe militar e tomar o Poder Soviético, liderada por Tukhachevsky, no interior do Exército Vermelho.  

Pena de morte e totalitarismo
Por proposta de Trotsky, o Politburo do PCR(b) aprovou o retorno da pena de morte nos países soviéticos. 
A primeira vítima, sob o seu comando direto, foi o julgamento do Capitão Alexey Schastny, oficial da Marinha da Frota do Báltico, julgado e fuzilado em 22/07/1918.
Trotsky invadiu pessoalmente a sala do juri e exigiu a condenação do oficial com aplicação da pena de morte, com base na acusação, lançada pelo próprio Trotsky:
- "o capitão Schastny queria destruir a Frota para gerar uma conspiração contrarrevolucionária".
Numa reunião do Politburo do PCR(b) de 1918, Bukharin, Stalin e Trotsky aprovam a proposta deste último de endurecimento da repressão sob o Poder Revolucionário Soviético: 
- "Não haverá tribunais, nem leis, criaremos campos de concentração, executaremos os culpados e os suspeitos que representam ameaças potenciais", defendeu Trotsky.

Voroshilov e o "terror vermelho"
O oficial Voroshilov, que foi comandante militar e organizador do Exército Vermelho, é apresentado como possuidor de documentos que comprovariam ser Trotsky o criador do "terror vermelho".
Pelos fatos acima comentados, a série destrói o paradigma clássico de um "Trotsky democrático, opositor incansável do totalitarismo e inimigo mortal do terror stalinista".
A série deixa patenteado: Trotsky é o pai do totalitarismo, criador da Política Repressiva de Estado tão ferozmente denunciada pelos mais ferrenhos anticomunistas como prática estalinista. 

Rebelião de Kronstadt, março 1918
Narra a série que a Rebelião de Kronstadt foi massacrada por Tukhachevsky, sob ordens de Trotsky.
A história da Revolução Russa e do PCR(b) registram que a derrota desta rebelião marcou o encerramento da Guerra Civil deflagrada com a chegada dos Bolcheviques ao Poder.
São muitas as lições discutidas entre os revolucionários marxistas-leninistas sobre esta rebelião: por um lado, há os que afirmam que a derrota dos rebeldes representou a consagração da burocracia do Estado sobre as organizações civis, esmagando os sovietes e sepultando de morte a verdadeira revolução socialista; por outro, os bolcheviques afirmam que os rebeldes eram dirigidos por generais czaristas, sedentos pela volta do poder imperial, que manipularam os oficiais, soldados e marinheiros do Soviete de Petrogrado com uma mescla de reivindicações justas e contrarrevolucionárias. 

O testamento de Lenin, 1922
A série mostra episódios de formação de uma suposta união entre Lenin e Trotsky contra Stalin, visando expulsá-lo do partido, na próxima reunião do Plenário do PCR(b), em 1922.
Veja o diálogo entre eles, narrado na série:
- Lenin: "teremos que usar a minha autoridade e a sua energia. Amanhã, serei o primeiro a falar, depois o Stalin e em seguida, você. Eu vou atacá-lo primeiro. Ele não saberá reagir; não sabe improvisar; ele vai resmungar; na sequência, você o finaliza. Depois de uma surra na frente do partido, ele perderá a autoridade. Você leu?"
- Trotsky: "curto e mortal".
A verdade histórica não confirma a união entre Lenin e Trotsky. Após o suposto diálogo, acima transcrito, Lenin passou mal, em consequência das sequelas do atentado a tiros que sofreu, ficando impossibilitado de comparecer ao Plenário.
O Politburo decidiu manter a convocação do Plenário, realizando-se a reunião sem a presença de Lenin.
O Plenário do PCR(B) aprovou as medidas propostas por Lenin de ampliação da instância partidária de 50 para 100 membros.
A esposa de Lenin, Krupskaya, entregou em 18/05/1924 o "testamento de Lenin", redigido em 24 e 25/12/1922, ao membro do Politburo, Kámenev,  que o submeteu ao 13° Congresso do Partido, que decidiu por unanimidade de votos, em 23/05/1924, não publicá-lo.
Por sua vez, Stalin solicitou a publicação do testamento no Pravda, pediu demissão do cargo de Secretário Geral, em 1924, renovou o pedido em 1925, mas o Plenário do Partido decidiu, por unanimidade, rejeitar o pedido e mantê-lo no cargo, inclusive com os votos de Trotsky, Kámenev e Zinóviev.

Expulsão, exílio e morte
Em 1927, Trotsky foi expulso do PCUS, sucessor do PCR(b); em 1929, expulso da URSS; em 1932, privado da cidadania soviética; e, em 1940, assassinado por Ramón Mercader ou Frank Jacson, o seu interlocutor, amigo da sua esposa Natália Sedova e namorado da sua secretária de confiança, a trotskysta norte-americana Sylvia Agelof.
Mercader era agente da NKVD, a polícia política dirigida por aliados de Kruschev, na década de 1940. Após cumprir a pena pelo assassinato de Trotsky, Mercader foi homenageado por Kruschev, em 1961, com a "Ordem de Lenin", a mais alta honraria da União Soviética. 

CRÍTICA HISTÓRICA À SÉRIE TROTSKY 
A série de biografia épica da tevê russa bebe nas fontes fornecidas pelo próprio Trotsky, como o livro autobiográfico "Minha Vida", publicada quando ele estava no exílio. 
A série se alimenta unicamente de literatura trotskysta, rica em afirmações a-históricas, como Arantes Jr (2016), segundo o qual Stalin é um contrarrevolucionário que afastou, expulsou e assassinou Trotsky para criar uma nova classe social de burocratas incrustados no Estado Soviético. 
A crítica de Trotsky contra o burocratismo soviético se desvia do conteúdo revolucionário e se converte em arma contrarrevolucionária da burguesia anticomunista!
A literatura trotskysta chega ao cúmulo de afirmar que o revisionista Kruschev, o traidor Gorbachev e o liquidacionista Yeltsin são "neoestalinistas" que extinguiram a URSS e dissolveram a aliança operário-camponesa para reimplantar o capitalismo nas nações soviéticas.
Uma prova do enorme equívoco dos seguidores de Trotsky está na seguinte afirmativa que, de tão contraditória, representa o contrário do que afirma: 
[...] Stalin 'varreu' (sic) todos os dirigentes históricos do movimento comunista nas democracias populares [do leste europeu]. Kadar, da Hungria, veio a ser 'vitimado' (sic).
Com a nova vaga de 'liberalização' sob Kruchev (sic) retornou ao Partido Comunista, participando do governo Nagy, que pretendeu retirar a Hungria do Pacto de Varsóvia [controlado pela União Soviética].
Kadar foi chamado a Moscou e intimado a dar um golpe em Nagy. Ele aceitou. Kruschev interveio militarmente na Hungria, destituiu Nagy e o executou (!).
Kadar o substituiu com a condição de que as tropas soviéticas fossem mantidas na Hungria (!) para evitar a volta das 'forças de direita' (sic) ao poder.
Kadar não tinha vocação para o 'terror estalinista' (sic) [...] (In: ARANTES JR, A. C. A passagem do neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental. Brasilia: FUNAG, 2016. p. 330).
A falácia estampa-se no própria texto supra transcrito: quem é adepto do terror? A narrativa deixa claro que Kruschev e Kadar são os terroristas! 
O revisionista Kruschev invadiu a Hungria, deu o golpe no governo e executou o presidente húngaro. O seu aliado interno Kadar participou de tudo e foi o grande beneficiado. Mas a culpa é de Stalin, caluniado como terrorista. 

ESTRATÉGIA CONTRARREVOLUCIONÁRIA
A estratégia comum dos trotskistas, revisionistas, anticomunistas e neofascistas do mundo inteiro é concentrar sobre Stalin a calúnia de totalitário, para caracterizar a ditadura do proletariado com esta mancha. 
O objetivo é frear a luta pelo socialismo como transição para a sociedade sem explorados e exploradores, uma sociedade utópica chamada comunismo. 
O neofascismo é a ponta de lança do capitalismo, que faz do anticomunismo a sua bandeira, baseada no antiestalinismo. 
Trotsky, Kruschev, Gorbachev e Yeltsin são as fontes do neofascismo em todo o mundo, usadas como arma ideológica para assegurar a sobrevivência do império do capital monopolista financeiro! 

A DIALÉTICA DA "DITADURA"
Do ponto de vista do materialismo histórico dialético, a ditadura do proletariado corresponde a ditadura da burguesia: enquanto aquela mantém o poder nas mãos dos operários e camponeses, esta o mantém nas mãos dos detentores do capital. 
Contudo, os desafios são diferentes, pois a passagem do capitalismo para o comunismo implica na transição com novas relações de produção socialistas, ao passo que o a passagem do feudalismo para o capitalismo manteve as relações de produção privadas. 
A revolução socialista implica a conquista do poder e a transformação revolucionária da educação, ciência, tecnologia, cultura, enfim, de todos os campos das relações humanas.

DOGMA ANTICOMUNISTA
O dogma que une trotskistas, liberais extremistas, social democratas de esquerda, centro e direita, conservadores de todos os matizes, grande mídia burguesa, religiões fundamentalistas, neonazistas e neofascistas, revisionistas, ex-comunistas, kruschevistas et caterva é a demonização do revolucionário soviético Josef Stalin, que enfrentou a feroz resistência capitalista, a invasão de 14 Exércitos Imperialistas, a máquina de guerra nazifascista e construiu o Mundo do Trabalho.

O CRIME DE STALIN
O grande crime de Stalin foi não implantar a democracia operário-camponesa, baseada no sufrágio universal, aberto, direto e secreto, estabelecido na Constituição da URSS, de 1937.
Stalin deve ser duramente criticado dentro dos marcos da nova formação econômico-social de socialização dos meios de produção. 
Fora desse marco, as críticas a Stalin movem as águas para o moinho da formação antiga, superada pela história, baseada na propriedade privada e nos monopólios capitalistas.

A TSUNAMI ANTIESLANISTA 
Não há nação ou líder em toda a História que tenha vencido tantas atrocidades como a que o povo soviético venceu, sob a liderança de Stalin. Entre 20 e 60 milhões de soviéticos deram suas vidas em defesa de seu país, do socialismo e de toda a humanidade contra as monstruosas ditaduras nazifascistas de Hitler e Mussolini e Hiroito.
A desconstrução e a demonização de Stalin como "ditador totalitário e sanguinário, pior do que Hitler" são manifestações doentias do capitalismo monopolista do século XX que, temeroso com a vitória do socialismo na URSS, instaurou a cruzada contra o líder desse mundo novo. 

A assertiva supra não afasta a crítica ao falível modelo soviético, a ponto de ser levado à autoextinção, que ocorreu sem derramar sangue, o que é revelador!

A CRÍTICA DOS "ALIADOS"
O tsunami antiestalinista, no entanto, não devorou importantes vozes do pensamento mundial, como Pablo Neruda, que defendeu Stalin na autobiografia “Confesso Que Vivi”, em princípios dos anos 70.
O presidente do extinto Partido do Trabalho Belga, Ludo Martens, no livro “Um outro Olhar Sobre Stalin” e o filósofo comunista italiano Domenico Losurdo, em “História Crítica de uma Lenda Negra”, com base em volumosa documentação, refutaram muitas calúnias contra Stalin.


A CRÍTICA DOS "NÃO ALIADOS"
Mesmo autores abertamente hostis ao socialismo e à sua principal liderança, como Zhores A. Medvedev, em “Um Stalin Desconhecido” e Simon Sebag Montefiore, em “O Jovem Stalin”, lançaram algumas luzes sobre a complexidade do período, com as evidências de que Stalin foi assassinado por envenenamento e omissão deliberada de socorro por agentes do Estado interessados em revisar as bases na URSS rumo ao capitalismo e se apropriar das enormes riquezas soviéticas como nova classe burocrática incrustada no aparelho estatal em associação com o monopólio capitalista ocidental.
Montefiore, um escritor nada simpático a Stalin, descreve a vida de um pequeno georgiano, filho de uma lavadeira e de um pai alcoólatra, com um braço menor e torto, pobre, poeta e galante, possuidor de fibra, coragem, heroísmo, grande inteligência e capacidade de superação, que garantiu o apoio financeiro e organizativo a Lenin em todo o seu caminho revolucionário. 

Até os críticos "não aliados" afirmam que a vida de Stalin, desde a adolescência até a sua morte, foi inteiramente dedicada à luta pelo socialismo.
Assim, Medvedev e Montefiore confrontam solenemente as fontes usadas na produção da série Trotsky, demonstrando cabalmente que a Revolução de Outubro é obra coletiva, cabendo também a Stalin um papel estratégico fundamental. 

A CRÍTICA CIENTÍFICA
Há 30 trinta anos, o professor doutor Grover Furr, pesquisador de História Medieval da Universidade de Nova Jérsei, dos Estados Unidos, pesquisa os documentos do “arquivo secreto do Kremlin”, constituindo-se no mais respeitado "sovietólogo" ou conhecedor da história da União Soviética.
O pesquisador questiona em suas obras os paradigmas antiestalinista e anticomunistas difundidos nas academias e pelo "mass media" como senso comum: dentre outros livros, destacam-se “The Murder of Sergei Kirov” que revela a verdade sobre o assassinato de Sergei Kirov; em “Stalin and Democracy - Trotsky and the Nazis”, revela a luta de Stalin pela democracia e a colaboração de Trotsky com os nazistas.
Em "The Moscow Trials As Evidence", o pesquisador americano demonstra que os processos de Moscou de 1937, 1938 e 1939 produziram provas legalmente válidas, sem tortura ou falsificação, de alta traição contra a União Soviética para derrubar o poder socialista e facilitar a invasão nazista, deflagrada em 194.
No livro “Kruschev Lied”, Furr desmascara todas as 61 acusações de Kruschev, lançadas no famoso Discurso Secreto "O Culto a Personalidade e os Crimes de Stalin", no plenário de encerramento do XX Congresso do PCUS, em 1956, a partir do qual, ocorreu a cisão irreparável e o retrocesso histórico do movimento comunista mundial.
A destruição da liderança revolucionária soviética e a extinção da URSS descerram o marco inaugural do neofascismo travestido de neoliberal extremista.

À GUISA DE CONCLUSÃO
É sintomático que a televisão russa, em pleno século XXI, venha produzir uma séria sobre a Revolução Socialista de Outubro, supostamente "baseada em fatos reais", depois de 100 anos dos fatos narrados, quando a sociedade socialista implantada pelos revolucionários deixou de existir há muito tempo.
Sob a égide de uma formação capitalista, a elite russa não tem compromisso histórico com os fatos. A série, nesse sentido, presta-se a submeter o nome, a imagem e o papel da personalidade supostamente narrada ou de qualquer outra engajada na formação socialista, ao sabor de deturpações que satisfaçam os interesses capitalistas.  
O julgamento moral será sempre determinado pelo critério da opção ideológica de quem analisar os fatos. Objetivamente, a série de biografia épica Trotsky da Netflix se realiza no contexto de crescimento do neofascismo mundial sob a face neoliberal extremista. 
As Nações estão submetidas aos interesses dos grandes monopólios internacionais, na prevalência absoluta das leis de mercado, no Estado Mínimo e na extinção dos Direitos Humanos.
A sintomática saga de Trotsky vem em socorro da elite capitalista dirigente russa, expropriadora de um magnífico patrimônio soviético construído pela aliança operário-camponesa, sob a direção do Partido Comunista da Rússia - PCR(b) e do Partido Comunista da União Soviética - PCUS.  

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Crítica de merda, como a serie, que tem falsificações históricas toscas

11:58 PM  

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