DESAFIOS À PRESERVAÇÃO DA ÁGUA,
O uso sustentável de bacias hidrográficas de mananciais de abastecimento público é um dos maiores desafios dos tempos modernos. O equacionamento do problema envolve fatores complexos que devem ser identificados e colocados numa ordem a mais correta possível para a obtenção de resultados satisfatórios.
Parte I
A bacia hidrográfica João Leite – BHJL, localizada na região central do Estado de Goiás, possui área de 765km². Compreende parcelas dos territórios de sete municípios: Anápolis, Campo Limpo de Goiás, Goianápolis, Goiânia, Nerópolis, Ouro Verde de Goiás e Terezópolis de Goiás. Dentro da bacia estão localizados mananciais de abastecimento público de várias cidades, incluindo o reservatório João Leite, em fase final de construção, que representa a principal fonte de água para abastecer a região metropolitana de Goiânia.
Da área total da bacia, 709km² estão situados a montante ou acima e 56km² a jusante ou abaixo, tendo como referência a cota inferior do terreno enquadrado como Zona de Proteção do Reservatório João Leite. O Decreto nº 5.704, de 27 de dezembro de 2002 criou a Área de Proteção Ambiental - APA João Leite, abrangendo toda a BHJL, sem, no entanto, delimitá-la. Posteriormente, o Decreto nº 5.845, de 10 de outubro de 2003, localizou e delimitou a área da APA, apresentando um memorial de caracterização. Este memorial, entretanto, caracterizou apenas a área a montante da barragem, deixando de fora a área a jusante.
Por esses decretos, a APA tem os objetivos de: proteger os recursos hídricos da bacia do João Leite; assegurar condições para o uso do solo compatível com a preservação dos recursos hídricos; conciliar as atividades econômicas e a preservação ambiental; proteger os remanescentes do bioma cerrado; melhorar a qualidade de vida da população local por meio de orientação e do disciplinamento das atividades econômicas; disciplinar o turismo ecológico e fomentar a educação ambiental, dentre outros.
O Plano de Manejo da APA, em elaboração junto ao órgão gestor da APA, a Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – SEMARH, deverá ser implantado por portaria assinado pelo titular da pasta, de acordo com o artigo 12, I, do Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, regulamentador da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC.
A preservação da água de abastecimento de Goiânia se insere no contexto de uma discussão pública sobre diferentes visões a respeito do uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica e do entorno do reservatório João Leite. A elaboração de um diagnóstico ambiental que fundamente concepções adequadas de uso sustentável pode colaborar para desmistificar a visão de que o poder público tem a competência exclusiva de preservar a bacia e a qualidade da água do manancial de abastecimento.
O Estado, mesmo totalitário, não é onipresente. A política de comando-e-controle não tem a capacidade de imprimir poder de polícia suficiente para determinar o uso do solo numa bacia de área gigantesca. Uma lei, decreto ou portaria que estabeleça o que pode e o que não pode, abrangendo propriedades de domínio público e, sobretudo, privado, será medida inócua se não discutir a forma de uso e gestão, a ser compartilhada entre os proprietários e os diferentes níveis de poder público.
Essa é a conclusão extraída do exemplo das represas Guarapiranga e Billings, na região metropolitana de São Paulo. Os esforços de fiscalização, com o uso de força policial, helicópteros e delimitação de uma linha quilométrica de proteção, emitindo-se milhares de notificações, multas, embargos e até prisões de loteadores que desrespeitaram tal linha, não impediram a favelização no entorno da represa. No próximo artigo discorreremos sobre esse exemplo histórico, a partir do qual se pode extrair lições a respeito da proteção de mananciais de abastecimento público.
Parte II
A qualidade da bacia hidrográfica de abastecimento da população da metrópole goianiense não estará assegurada caso prevaleça uma visão exclusiva de comando-e-controle, pois se corre o risco de repetir o fenômeno que aconteceu na cidade de São Paulo entre a segunda metade da década de 1970 e de 1990. Esse exemplo histórico expôs as contradições sobre o uso e ocupação irregular do entorno das represas Billings e Guarapiranga, sobretudo na gestão municipal de Luiza Erundina (1989-92).
Os pesquisadores que discutiram o assunto na edição nº 23 da conceituada revista do Instituto Pólis, asseveram que, em meados da década de 1970, para a Grande São Paulo, prevaleceu a visão:
[...] de preservar ao máximo os recursos hídricos através de uma concepção de planejamento predominantemente tecnocrática, estabelecendo padrões de controle. Neste contexto, foi criada, em 1975, a Lei Estadual nº 898 de Proteção de Mananciais que representou, na época, medidas necessárias para estancar o processo de degradação das águas e representou um avanço no tratamento da questão, sendo efetivada por meio de rigorosa fiscalização [...].
Mas, apesar do reconhecido avanço proporcionado pela legislação de proteção de mananciais, ela provocou um efeito oposto, conforme afirmação contida na citada revista:
[...] a desvalorização imobiliária gerada pela própria legislação provocou o rebaixamento do preço da terra. A região deixou de ser interessante para o mercado imobiliário devido às várias restrições para ocupação normatizadas pela lei, tornando-se um lócus do mercado ilegal de loteamentos clandestinos. Neste sentido, a aplicação da lei teve um efeito perverso [...].
Os especialistas concluíram que terra barata aliada a grande demanda de moradia da população pobre de São Paulo montou uma equação ideal para loteamentos clandestinos. Os governos locais, como instâncias mais próximas da população, sofrem as pressões cotidianas por melhorias e investimentos urbanos. Por isso, alertaram os especialistas, a política municipal para uma região de abastecimento público somente se torna viável quando integrada a políticas ambientais mais amplas, articuladas a esferas estaduais e federais de governo.
No caso em discussão, a necessária integração entre os níveis de governo não ocorreu. As contradições entre o Estado e o Município de São Paulo foram assim expostas:
[...] Como a Lei de Proteção de Mananciais está deslocada da lógica de ocupação da cidade, passou a contrariar a própria legislação municipal, que permite densidades mais altas de ocupação do que a lei estadual prevê. Para o parcelamento dos terrenos nas áreas rurais, as duas leis estabelecem cotas diferentes para o tamanho dos lotes. Através de decretos do executivo municipal, alguns lotes vêm sendo transformados em zonas urbanas, ainda que não possam ser regularizados. Mesmo assim, na falta de alternativas habitacionais, a população de baixa renda adquire os lotes [...].
O resultado dos conflitos e contradições do caso histórico aqui exposto é conhecido por todos – aconteceu a favelização no entorno das represas Billings e Guarapiranga, sem nenhuma infra-estrutura de saneamento ambiental, de maneira que ocorreu o comprometimento da água de abastecimento público e a contaminação dos reservatórios responsáveis por 32% da água consumida na região metropolitana de São Paulo.
Com base na literatura especializada e nas experiências realizadas, é possível formular e executar políticas, planos, programas e projetos, baseados no ordenamento, zoneamento e gestão do território, de maneira a promover o manejo de bacias hidrográficas para o alcance de metas de proteção de mananciais de abastecimento público. A legislação e a regulamentação incidentes sobre o território-alvo do planejamento são os primeiros passos a serem seguidos por outros de igual importância para enfrentar o desafio da “crise da água” em nosso meio. No próximo artigo discorreremos a respeito.
Parte III
Uma questão prioritária é a demanda crescente para uma oferta limitada. Um nível razoável de satisfação do consumo doméstico e industrial requer uma demanda diária média de 250 litros por habitante. Porém, a disponibilidade hídrica no nosso meio é constituída de fontes de superfície que, para regimes hidrológicos continentais intertropicais, requer a preservação de uma bacia hidrográfica da ordem de 500km² para o abastecimento de uma metrópole do porte de Goiânia.
O explosivo crescimento populacional dos núcleos urbanos dos países emergentes e uma dinâmica populacional marcada por intensas necessidades sócio-econômicas pressionam a demanda, mas a disponibilidade para seu atendimento depende de uma oferta limitada e sujeita à variação das precipitações pluviométricas, do uso e manejo do solo e da infra-estrutura de saneamento ambiental da bacia hidrográfica. Afinal, dos 44 milhões de m³/dia de água captados das fontes superficiais nacionais, são devolvidos 39 milhões de m³/dia de esgoto, sem tratamento. Isto equivale a cinco vezes o volume de água depositado anualmente na Baía de Guanabara. Em resumo, as fontes de superfície são deplecionadas nas extremidades da captação de água e do lançamento de efluentes poluidores, assim como no manejo inadequado da vertente, impactando negativamente todo o ciclo da água.
As condições intertropicais se caracterizam pela variação da vazão de chuva e de seca, bem como dos fatores dependentes do clima, solo e vegetação, estabelecendo regimes hidrológicos bastante críticos para o abastecimento das metrópoles brasileiras. Esta avaliação pode ser feita pela comparação das vazões dos cursos d’água que abastecem as populações de algumas cidades. As metrópoles localizadas em regiões de clima temperado apresentam uma relação entre demanda e disponibilidade hídrica bastante favorável. A região de Paris com 10 milhões de habitantes é abastecida pelo rio Sena, que possui vazão média de 300 m³/s no trecho parisiense. Roma possui 6,5milhões de habitantes abastecidos pelo rio Tibre, que tem vazão média de 360m³/s no trecho romano.
A vazão disponível nas cidades do nosso País é pequena comparativamente às situações de outras partes do mundo, como vistas. A metrópole goianiense com 1,4 milhão de moradores é abastecida pelo ribeirão João Leite que possui vazão média de 11,2m³/s (a contribuição do Alto Meia Ponte e a possível contribuição do Dourados e do Caldas não altera esse quadro relativo). A grande São Paulo, com quase 20 milhões de habitantes, está localizada na bacia do Alto Tietê, que possui vazão média de 90m³/s. Em termos comparativos, as metrópoles brasileiras são relativamente populosas e demandadoras de água, embora os mananciais que as drenam sejam relativamente pouco caudalosos. Portanto, a relação entre oferta e demanda é bastante desfavorável. Em conseqüência, é real a perspectiva de agravamento da crise no abastecimento de água. Estima-se que, em Goiânia, mantendo-se as atuais taxas de crescimento populacional, nas duas próximas décadas, caso não se efetive programas de proteção dos mananciais, a demanda ultrapassará a capacidade-limite de oferta disponível na bacia hidrográfica de abastecimento.
Diante desse cenário, é fundamental implementar políticas de proteção dos mananciais da região metropolitana de Goiânia, a partir do planejamento, zoneamento e gerenciamento do território de toda bacia hidrográfica. As ferramentas para isso são o diagnóstico e o manejo sustentável do solo da bacia João Leite e não apenas do entorno do reservatório. A esse respeito, discorreremos no próximo artigo.
Parte IV
A bacia hidrográfica do ribeirão João Leite foi estudada por uma equipe multidisciplinar, constituída por profissionais experientes e habilitados nas áreas física, biótica e social do conhecimento. A equipe realizou o diagnóstico dos meios físico e biótico, sócio-territorial, saneamento ambiental e legislação, com o objetivo de subsidiar a formulação de diretrizes para o uso sustentável. A aplicação do conceito da sustentabilidade implica conhecer os recursos naturais e estabelecer possibilidades de uso do solo, de maneira a respeitar a capacidade-suporte da bacia e a preservação do futuro reservatório de abastecimento da metrópole goianiense.
A análise do meio físico demonstrou uma certa homogeneidade nos aspectos de clima, geologia, geomorfologia, declividade, solos e hidrologia no território da bacia estudada. O clima é do tipo tropical úmido, com estações de inverno seco e de verão, com chuvas torrenciais. Geologicamente, predominam rochas gnáissicas e granulíticas, impondo características geotécnicas homogêneas. A área é em geral muito plana. As declividades superiores a 30% ocupam o Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, na porção norte da bacia. As porções intermediárias e inferiores são ocupadas pelo Planalto Rebaixado de Goiânia, que formam interflúvios extensos e planos. Os solos apresentam predominância dos tipos Latossolos, que possuem boa capacidade de suporte ao manejo, mas suscetíveis ao processo erosivo sob condições denudacionais. O padrão de drenagem natural se relaciona à geomorfologia do terreno e manifesta predominância do escoamento superficial, com tendência ao assoreamento da bacia no seu trecho intermediário e inferior.
A cobertura vegetal original da bacia é constituída por diversas formações fisionômicas do cerrado, florestas de interflúvio e de galeria. A ocupação humana suprimiu grande parte da cobertura nativa e simplificou a paisagem natural. O fragmento remanescente mais expressivo está representado no Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco, que ocupa parte do território de Goianápolis e de Terezópolis; outros fragmentos remanescentes ocorrem nos territórios de Goiânia, Goianápolis e na Fazenda Santa Branca, em Nerópolis e Anápolis, bem como nos topos de morros existentes na bacia.
Os fragmentos de vegetação nativa são interligados por corredores migratórios que ainda restam nos fundos de vale. Eles são fundamentais para a existência e manutenção da fauna. Registrou-se a ocorrência de 29 espécies de animais, inclusive onça pintada e parda; de 153 espécies de aves na área da barragem, da Fazenda Santa Branca e no município de Campo Limpo, ao norte da bacia. A ictiofauna do curso principal do João Leite apresentou pequena variação na composição de espécies.
No aspecto sócio-territorial, o espaço geográfico da bacia é ocupado por atividades rurais de pecuária extensiva na área de montante e de agricultura mais intensiva no trecho intermediário da bacia, atividades urbanas e pela mineração em pequena escala, sobretudo extração de minérios classe 1. Em geral, o processo de urbanização é carente de adequada infra-estrutura e equipamentos sociais. As únicas cidades dotadas de saneamento ambiental são Goiânia e Anápolis. As parcelas urbanizadas da bacia com melhor estrutura de urbanização são as de Goiânia, como o Aldeia do Vale, mas ocorrem parcelamentos pouco estruturados como o Residencial Vale dos Sonhos.
Os principais fatores de impacto ambiental na bacia são decorrentes das atividades acima listadas: desmatamento, processo erosivo, assoreamento e contaminação da água por agrotóxicos e adubos sintéticos; lançamento de efluentes domésticos e industriais sem tratamento; e os causados principalmente pela extração de minérios classe 1 (argila, areia, cascalho) nos mananciais. A análise dos fatores que impactam negativamente os diversos componentes subsidiou uma proposta de zoneamento e de usos sustentáveis da bacia, sobretudo no aspecto do saneamento ambiental, a ser exposto no próximo artigo.
Parte V
A análise dos fatores que condicionam o saneamento ambiental é de fundamental importância para o zoneamento e o planejamento de usos sustentáveis da bacia hidrográfica João Leite, a principal fonte de água potável do goianiense. A qualidade da água do futuro reservatório é produto da qualidade da água na cabeceira da bacia modificada por diversos fatores que atuam no trecho que separa estes dois pontos. Isto é, a qualidade da água que a população goianiense beberá depende de fatores naturais (dependentes do clima, solo e rocha) e humanos (manejo do solo e saneamento ambiental) ocorrentes na área compreendida pelos municípios de Goiânia, a jusante, Terezópolis, Goianápolis, porção intermediária, e Campo Limpo, Nerópolis, sobretudo, Anápolis, a montante da bacia hidrográfica João Leite.
O município de Campo Limpo possui 5.596 habitantes, com área de 15.437 hectares, sendo 127 hectares urbanizados, situados dentro da bacia. O município de Goianápolis tem uma população de 11.159 habitantes e uma área de 11.832 hectares dentro da bacia hidrográfica, dos quais 82 hectares em zona urbana. Terezópolis tem 5.620 habitantes e toda área do município situa-se na bacia (10.674 hectares), sendo 137 hectares na zona urbana. Nerópolis conta com área urbana situada totalmente fora da bacia, mas com 7.640 hectares da zona rural dentro da bacia. Assim, ocorrem nestes municípios fatores mais diretamente ligados ao manejo inadequado do solo rural que interferem na qualidade da água do reservatório. Dentre eles, destacam-se: processos erosivos e assoreamento que causam a contaminação dos mananciais por resíduos de produtos químicos (agrotóxicos e adubos sintéticos, inclusive metais pesados), usados na agropecuária e que comprometem, principalmente, a qualidade das águas tributárias do córrego das Pedras, formador do braço direito do ribeirão João Leite.
Por seu turno, a parcela da bacia situada no município de Anápolis é de 19.076 hectares, dos quais 1.017 hectares são urbanizados com parcelamentos de alta densidade e perfil de baixa renda, num cenário típico da periferia das cidades brasileiras de porte médio acima. Apesar da existência de um sistema municipal de saneamento ambiental, com aterro controlado e tratamento de esgoto, o índice de clandestinidade do esgotamento sanitário nos bairros dessa região é muito alto. Ocorre destinação inadequada dos resíduos sólidos nos lixões e o lançamento de esgoto bruto, tanto de origem doméstica como industrial, diretamente nos mananciais que nascem dentro da cidade – córrego das Inhumas, Capuava, do Frigorífico, Mato Grosso – e deságuam no Jurubatuba, formador do braço esquerdo do ribeirão João Leite.
Portanto, as atividades humanas, urbanas e rurais, desenvolvidas na cabeceira da bacia do João Leite, contribuem decisivamente para a deterioração da qualidade da água e para a redução da vida útil do futuro reservatório. Quanto maior o número e quanto mais intensa a atividade de médio a alto impacto ambiental, sem o devido controle do lançamento de efluentes, pior será qualidade da água, onerando o custo de tratamento ou até mesmo comprometendo sua potabilidade. Os parâmetros de saneamento ambiental e biomonitoramento, realizados durante várias estações do ano, ilustram com clareza o quadro de fragilidade ambiental da bacia. A redução das alterações dos macroinvertebrados bentônicos e a presença de níveis de condutividade elétrica, ferro dissolvido, fósforo total, óleos e graxas, com pulsos elevados de turbidez e coliformes fecais, todos acima dos limites legalmente permitidos, comprovam que o reservatório a ser formado, caso persistam a atuação dos fatores impactantes já citados, está fortemente sujeito a contaminação e eutrofização da água de abastecimento, com ocorrências de florações de cianofíceas, potencialmente tóxicas e prejudiciais à saúde.
A localização de todas as fontes pontuais e difusas de poluição e o zoneamento da bacia como um todo, estabelecendo usos compatíveis com a vocação do solo e a capacidade-suporte dos componentes ambientais existentes, são os fundamentos para a implementação de um plano estratégico de desenvolvimento sustentável visando preservar a qualidade dos mananciais hídricos. A esse respeito, discorreremos no último artigo.
Parte VI
O planejamento estratégico da bacia hidrográfica João Leite é essencial ao alcance do objetivo de promoção do desenvolvimento sustentável em todo seu território, com 76.539 hectares, que se estende das cabeceiras, na Serra do Sapato Arcado, entre os municípios de Ouro Verde, Campo Limpo e Anápolis, até a foz no rio Meia Ponte, em Goiânia. O planejamento se fundamenta no diagnóstico dos aspectos físicos, bióticos, socioambientais e legais, expostos nos artigos anteriores. O zoneamento da bacia se submete aos critérios e restrições de uso do solo das seguintes zonas: faixa de proteção do reservatório de 200 metros a partir da cota máxima do lago a ser formado, com área de 1.740 hectares; Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco, como unidade de conservação de uso indireto e proteção integral da natureza, com 3.946 hectares; áreas de preservação permanente, englobando as faixas bilaterais de 100 metros contíguas às margens do João Leite e de 50 metros dos seus tributários, bem como de 100 metros das nascentes dos mananciais hídricos, perfazendo 7.455 hectares; solos cobertos com vegetação nativa remanescente, ocupando 9.832 hectares; e faixa de domínio das rodovias que cortam a bacia, com 6.772 hectares. Somando-se toda área com restrição ao uso do solo temos 29.368 hectares.
A área passível de uso sustentável, descontada a restrição citada, alcança grande extensão, tanto a montante ou acima como a jusante ou abaixo do futuro reservatório João Leite. A área a montante ocupa 70.875 hectares de sete municípios; a jusante, 5.665 hectares no município de Goiânia. Considerando a importância e a fragilidade ambiental do reservatório, o zoneamento deve estabelecer maiores restrições à ocupação e uso do solo na zona de montante, através de empreendimentos sustentáveis, de baixo impacto ambiental, de baixa densidade de ocupação e submetidos às normas e padrões de proteção dos mananciais de abastecimento público, como hotéis-fazenda, resorts, condomínios do tipo ecovilas, atividades agropecuárias de uso sustentável do solo, hípica, hipódromo, ecoturismo – de aventura e/ou ecológico, obras e equipamentos de extensão, pesquisa e ensino.
A área localizada a jusante do reservatório, que não foi contemplada no zoneamento do Plano de Manejo da área de proteção ambiental (APA) João Leite, necessita ser incluída no zoneamento, com o objetivo de proteger o manancial de abastecimento público. Portanto, é fundamental que o órgão competente do estado de Goiás, responsável pela administração da APA, promova a inclusão da área de jusante, na qual, são admitidos usos diferenciados para os solos rural e urbano do município de Goiânia. Nas macrozonas rurais propõe-se a regulamentação do art. 79 do Plano Diretor, admitindo-se usos de características rurais, com adensamento e impacto ambiental pouco significante. E na zona urbana, admitem-se usos de características urbanas diferenciadas, submetidas ao processo de avaliação de impacto ambiental, como empreendimentos sustentáveis, de baixa densidade e dotados de equipamentos adequados de controle da poluição. Estes empreendimentos poderão proporcionar efeito de zona tampão do reservatório contra a expansão e o adensamento urbano convencional, como parque de exposição agropecuária e parque zoológico.
Conclusão
Diante do exposto e em atendimento às atividades sócio-econômicas recomendadas no plano de manejo da APA João Leite, em estrita obediência às restrições de usos do solo aqui discutidas, são admitidas como passíveis de implementação, nesta bacia, as zonas de interesse turístico. Os artigos 170 e 180 da Constituição estabelecem o turismo sustentável e o zoneamento turístico, a partir de trechos do território com características semelhantes e usos compatíveis à vocação e à capacidade de carga do ambiente. Os impactos negativos gerados pelo afluxo turístico serão identificados e minimizados, e, os positivos, maximizados. Existem modelos, instrumentos, indicadores e metas de sustentabilidade que, adotados, permitem identificar e monitorar esses impactos.
O turismo sustentável, portanto, é uma alternativa válida à manutenção da integridade do produto turístico considerado, constituído pelos atributos existentes, como as paisagens naturais e o espelho d’água formado pelo reservatório, capaz de proporcionar benefícios socioambientais, melhoria, recuperação e proteção da bacia hidrográfica de abastecimento público.
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Comentários desta matéria:
(19) Fabiana Silveira (fabiana12gpa@hotmail.com quarta-feira, 26/11/2008 09:20)
Trabalho com o autor do artigo supra na UNIP, onde ministramos uma disciplina de Saneamento Ambiental no curso de enfermagem. Os seus artigos sobre a bacia do João Leite me despertaram para a importância da preservação das nascentes, orientando-me no desenvolvimento do tema de um projeto para o mestrado em Ciências Ambientais e Saúde na UCG.
Fabiana Silveira – professora da UNIP, Campus Flamboyant, Goiânia/GO.
(18) Luiz Bosco Sardinha Machado (advogadosardinha@yahoo.com.br sexta-feira, 19 de setembro de 2008 21:09, sábado, 13/09/2008 09:01, sábado, 6/09/2008 13:38 e segunda-feira, 1/09/2008 08:44)
Os artigos do professor Osmar Pires sobre os desafios da preservação da água foram publicados na coluna e no blog do Sardinha, no endereço: <www.colunadosardinha.blogspot.com>.
Bosco Sardinha – advogado, escritor e jornalista, Tribuna de Betim/MG.
(17) Jair Maranhão Costa (maranhaocosta@hotmail.com via e-mail, Opinião do Leitor, p.6, sexta-feira, 19/09/2008, Diário da Manhã)
A mãe Terra agradece
Parabéns, DM, pela publicação da série de artigos Desafios à preservação da água, de autoria do articulista Osmar Pires, autor de livros que são referência do curso em Perícia Ambiental em todo o País e não podem faltar na biblioteca de qualquer profissional.
O assunto é discutido por pessoa da área de saneamento ambiental e por especialista na área do meio ambiente, pois se trata de um profissional qualificado como doutor em ciências ambientais (UFG), mestre em ecologia (UFG), pós-graduando em administração de cooperativas (UCG), especialista em engenharia de irrigação (UFG), engenheiro agrônomo, biólogo-bacharelado e também licenciatura. É professor universitário de cursos de graduação na UNIP e de pós-graduação na UCG e no IPOG de Goiânia.
Dá para ver que esse professor tem bagagem para fazer artigos e até mesmo editar livros, tais como A verdadeira história do Vaca Brava e Uma cidade ecologicamente correta.
João Maranhão – Pós-Graduando em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG).
(16) Leonardo Rodrigues Moraes (leonardomoraes@ipoggo.com.br via e-mail, Opinião do Leitor, p.6, sexta-feira, 19/09/2008, Diário da Manhã,)
Sustentabilidade
Os artigos do prof. Osmar Pires sobre os desafios à preservação da água, como ocorre também em outros assuntos ambientais, contribuem com nossa "labuta" pela defesa da sustentabilidade!
Leonardo Moraes – professor M.Sc., diretor Pedagógico do Instituto de Pós – Graduação (IPOG) – Goiânia/GO.
(15) Norma Costa (normadama@yahoo.com.br via e-mail, Opinião do Leitor, p.6, 19/09/2008, Diário da Manhã)
Água sob suspeita
Tendo em vista os artigos do professor Osmar sobre desafios à preservação da água, torna-se oportuno requer esclarecimentos a respeito do mau cheiro da água em Goiânia. Já fazem mais de duas semanas que estamos pagando para usufruir uma água malcheirosa e com gosto igualmente ruim. Afinal, que alga é esta [segundo o noticiário, uma cianofícea, produtora de uma substância, geomina] que falam que se desenvolveu no reservatório?
Norma Daisy M. Costa Gomes – Goiânia/GO.
(14) Argemiro Pina (pinamorim@yahoo.com.br sexta-feira, 19/09/2008 11:22)
O artigo sobre os desafios à preservação da água, do articulista Osmar Pires, representa a palavra, que deve ser ouvida, de um especialista na área do meio ambiente e do saneamento ambiental. Conheço o autor há mais de vinte e cinco anos. Sua competência acadêmica já me fora apresentada à época da faculdade. Fiz (tentei fazer) – no início da década de 80 – um ano e meio de Agronomia e, nas aulas de Zoologia, ele era o professor-monitor. Percebíamos que estávamos diante de pessoa privilegiadíssima na personalidade e capacidade intelectual. A partir daí, continuei a distância, mas acompanhando sua trajetória política (no exercício de órgãos ambientais) e profissional (agora, como escritor). No livro A verdadeira história do Vaca Brava estão registrados testemunhos meus e de muitas outras pessoas sobre sua trajetória e seus feitos na área do meio ambiente. Fui, ainda, professor de sua filha, Ludmila e, agora de seu filho, Diogo; exemplos de educação ímpar.
Argemiro Pina – professor do Colégio Ávila.
(13) Flávio Aguiar (flavio.aguiar@brasilata.ind.br domingo, 14/09/2008 20:26)
Compartilho as preocupações do articulista sobre os recursos hídricos de abastecimento público.
Flávio Aguiar – Pós-Graduando em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG).
(12) Iracema Dantas (echiquefalarportugues@hotmail.com domingo, 14/09/2008 12:48)
O artigo acima nos remete ao ano de 1991 quando, na abertura do Congresso da ABES, o então presidente da entidade, prof. Jadson Araújo, disse: "a 3ª guerra mundial será por causa da água". Pelo visto, ele tinha razão.
Acompanho os textos e principalmente o trabalho do articulista para garantir nossos recursos hídricos. Continue contando com minha admiração.
Iracema Dantas – Goiânia/GO.
(11) Gustavo Mendanha (jornalismo@ecogeraes.com.br quinta-feira, 11 de setembro de 2008 09:04)
O artigo sobre os desafios à preservação da água é muito interessante. Parabéns ao autor.
Gustavo Mendanha – diretor de Redação Principal Editora - Revista Ecogeraes.
(10) Erenice Costa de Alencar (erenicealencar@hotmail.com quinta-feira, 4/09/2008 11:23)
Manifesto agradecimentos ao DM pela publicação e congratulações ao articulista, pelos artigos Desafios à preservação da água, que nos proporciona abordagem socioambiental acerca de assunto importante e crítico para o futuro da humanidade.
Profª. Erenice Alencar – Câmara de Orientação Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental da Universidade São Marcos – São Paulo/SP.
(9) José Geraldo Nogueira (jgn@sic.goias.gov.br quarta-feira, 3/09/2008 08:53)
Parabéns ao articulista pelo seu trabalho e pelos artigos Desafios à preservação da água, publicados pelo DM. Desenvolvo um trabalho pela Faculdade de Tecnologia Senai, em Anápolis, sobre o Córrego Cascavel, que corta Goiânia. Estou muito preocupado com o problema água, que na verdade não deveria ser problema e sim solução, mas esta depende da mudança da relação homem x natureza. Precisamos fazer alguma coisa que altere esta triste história de que o homem acaba com tudo.
José Geraldo – Técnico da Secretaria da Indústria e Comércio – SIC/GO, pós-graduando da Faculdade de Tecnologia Senai Roberto Mange, Anápolis.
(8) Luiz Augusto da Costa Porto (luau@cultura.com.br quinta-feira, 28/08/2008 14:42)
A série de artigos sobre os desafios à Preservação da Água me interessou muito. Parabéns.
Luiz Augusto da Costa Porto – doutor em Biologia, professor da UCG.
(7) Leonardo Aguiar Morelli (aguiarmorelli@hotmail.com quinta-feira, 28/08/2008 08:49)
Gostei muito do artigo Desafios à preservação da água de abastecimento público (III), que foi publicado em nosso portal, após autorização do autor, por iniciativa do Instituto Defesa da Vida, uma ONG que desenvolve Câmaras Técnicas em Brasília e organiza cursos e palestras em todo o País.
Leonardo Aguiar Morelli – coordenador-geral do Movimento Grito das Águas e do Instituto Defesa da Vida http://www.defesadavida.org.br.
(6) Josias Dias da Costa (josias.mineirense@gmail.com quinta-feira, 28/08/2008 06:32)
O artigo supra nos enseja a oportunidade de questionar sobre a propaganda feita no governo Marconi Perillo de que o rio Meia-Ponte estava despoluído. Isso não é o que se vê ao atravessá-lo na BR São Paulo-Brasília e na GO-010, onde se situa a empresa Itambé. O aspecto da água é muito ruim e a fedentina é lastimável.
Josias Dias da Costa – Goiânia/GO.
(5) Prof. Jarmuth Andrade (prof.jarmuth@yahoo.com.br quinta-feira, 28/08/2008 06:30)
Agradeço aos amigos os apoios, colaborações, artigos e algumas denúncias de comunidades prejudicadas pelos problemas ambientais. Para todos que se interessam pela recuperação e preservação dos nossos rios, ribeirões, córregos e lagos, temos publicado no blog SOS Rios do Brasil alguns relatos de comunidades que estão defendendo com muita garra as suas águas. Destacamos o artigo Desafios à preservação da água de abastecimento público (III), do professor Osmar Pires, publicado no endereço: http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2008/08/preservar-gua-de-abastecimento-pblico-o.html.
Prof. Jarmuth Andrade – físico e ambientalista, é presidente do Instituto SOS Rios do Brasil, Campos do Jordão/SP.
(4) Itamar do Posto Caibi (postocaibi@brturbo.com.br quarta-feira, 27/08/2008 09:06)
Quero comunicar que estou lendo os artigos sobre os desafios à preservação da água para o abastecimento público. Fico muito contente em receber informações das ações ambientais desenvolvidas na capital humanitária que está se construindo em Goiânia.
Itamar do Posto Caibi.
(3) Euler Amorim (e.amorim@uol.com.br quinta-feira, 21/08/2008 15:18)
Preocupante é a situação dos mananciais de abastecimento público. Pela minha visão de leigo, parece-me que as ocupações de beiradas de rodovias, ferrovias, morros ainda têm conserto. Entretanto, quando se fala em questões hidrográficas, o fato é de arrepiar.
E o pior: não é somente em Goiânia. A situação reinante nos demais municípios preocupante quanto à ameaça de crise no abastecimento. Por isso, creio que no artigo supra seria cabível a substituição do termo "desafios" por "guerra".
Euler Amorim Junior – Goiânia/GO.
(2) Norma Costa (normadama@yahoo.com.br terça-feira, 21/08/2008 11:44)
A série de artigos sobre a Área de Proteção Ambiental da bacia hidrográfica João Leite nos desperta para o seguinte alerta: a APA do córrego Vaca Brava, ao lado do Goiânia Shopping, está sendo desmatada e degradada pela ampliação do empreendimento comercial.
Parece que as autoridades do meio ambiente de Goiânia não estão preocupadas com o fato de que ali é área de absorção e também de preservação permanente com uma pequena mata ciliar que ali ainda se encontra.
Norma Daisy M. Costa Gomes – Goiânia/GO.
(1) Emmerson Kran (alxkran@uol.com.br terça-feira, 19/08/2008 22:40)
A bacia do João Leite sofre com a tentativa de ver às suas margens um mega projeto turístico que propõe geração de emprego e divisas ao entorno de Goiânia, mas se implantado à toque de caixa, sem o devido cuidado, corre-se o risco de que os proponentes do projeto, denominado Goiânia Terceiro Milênio, desconsiderem importantes alertas de especialistas sobre perigo de equipamentos como zoológico, parque agropecuário, esporte náutico e outros.
Nossas atenções estão voltadas para a APA do João Leite.
Emmerson Kran – jornalista do Programa Conexão Ambiental – Rádio Difusora, Goiânia/GO.
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