Osmar Pires Martins Júnior*
As avaliações sobre a Rio+20, realizada
recentemente no Rio de Janeiro, colocaram em posições divergentes
a grande mídia, as ONGs e os governos, inclusive do Brasil,
responsável pela coordenação do evento.
De acordo com a voz corrente da mídia e
das ONGs, o evento foi um fracasso, retrocedeu na defesa do meio ambiente, não
impôs metas de controle da poluição e da degradação ambiental no planeta.
Na opinião dos governos, representados
pelo país anfitrião, a conferência não retrocedeu em nenhum ponto já
consolidado entre as nações desde a Rio92, avançou na criação de um fórum de
desenvolvimento sustentável e incluiu entre suas diretrizes
a erradicação da pobreza.
As posições opostas sobre a questão não se
excluem. Elas se complementam como os diferentes lados da mesma
moeda. O evento não foi nem um fracasso e nem uma vitória retumbantes. Fosse um
ou outro, não estaríamos aqui a falar do assunto.
Caso a Rio+20 fosse um estrondoso
fracasso, não seriam ouvidas vozes discordantes. Fracasso total seria constatar
que as nações fazem ouvidos moucos à crise ambiental. Isso não ocorreu.
Por outro lado, a Rio+20
não é uma vitória exultante, pois o processo de poluição e
degradação, como fenômeno histórico, não se resolve pela vontade de
alguns poucos e em tão pouco tempo.
A humanidade não vive mais sob os ideais
da revolução industrial capitalista. Os processos de democratização,
inclusive da informação, vieram para ficar. Os cidadãos, stakeholders ou agentes interessados em
geral, por meio do Terceiro Setor, avançaram no compartilhamento dos processos de decisão do
Poder.
Ao nível da ONU, as organizações
sociais conquistaram a oportunidade de participar das decisões sobre
o futuro do planeta, inclusive do fórum criado na Rio+20 para definir as
metas de desenvolvimento sustentável.
As ONGs são a voz da
sociedade que se fará ouvir neste fórum, na definição das
metas de controle da poluição, da inovação tecnológica, do desenvolvimento
limpo, da erradicação da fome, do analfabetismo, da miséria social, a redução
do desmatamento, o aumento da proteção dos recursos naturais etc., a
serem fixadas nos próximos dois anos pela ONU.
Nesse sentido, são positivas as perspectivas
de aprimoramento do modelo que a humanidade vem criando desde a
Rio92, baseado no tripé da sustentabilidade econômica, social e ecológica.
A inovação tecnológica com inclusão
social dos processos de produção e consumo mais limpos, renováveis e
duradouros, o respeito à biodiversidade social e ecológica, como
perspectivas da Rio+20, estarão entrelaçadas à continuidade
da jornada humanitária rumo à democracia e liberdade efetivas,
inclusiva, redutora do abismo entre ricos e pobres.
Os desafios do desenvolvimento
sustentável, portanto, dependem de fatores complexos, relacionados à consciência
individual e coletiva forjada nas lutas do dia a dia de cada povo, em cada
lugar do planeta.
Desse ponto de vista, a crise global do
capitalismo e, por consequência, a poluição e destruição da natureza, estão em
descompasso com o avanço da democracia global.
Uma onda democratizante varreu as
ditaduras na América Latina, derrubou tiranias na Europa Central, chegou aos
países do Oriente Médio, dominados durante milênios por oligarquias. O Egito,
berço da civilização, realizou sua primeira eleição e empossou na presidência
do País o primeiro em toda sua história graças ao voto direto e soberano do
povo.
Os ventos democratizantes da vida política
ainda alcançarão o domínio da economia pública e, sobretudo, privada, onde
imperam os monopólios e as oligarquias dos que se apropriam dos recursos
naturais como se seus fossem. Os ativos da natureza pertencem ao povo, e não a
uma minoria.
O desmatamento de uma floresta para
implantação de pastagens, logo abandonadas, onde se cria uma cabeça de gado por
hectare, é tão criminoso como lançar uma bomba atômica sobre uma cidade. A
poluição e a degradação ainda serão tipificadas como crimes contra a
humanidade, e não meras consequências do crescimento econômico.
Para isso, o homem terá adquirido tal
estágio de consciência sobre si mesmo, sobre o próximo, sobre as desigualdades
nas suas múltiplas dimensões, que fará a gestão democrática dos recursos
naturais, internalizando os malefícios da poluição e socializando os
benefícios, devidamente compensados, dos lucros sociais e privados resultantes.
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* Doutorando em C. Ambientais e mestre
em Ecologia pela UFG, professor de pós-graduação em Perícia Ambiental, foi
presidente da Agência Ambiental de Goiás, perito ambiental do MP-GO e
secretário do Meio Ambiente de Goiânia.
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